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Editorial

Vítor Bento, Presidente do Júri do IRG Awards 2018

31ª Edição

Recuperado de uma violenta crise económica e financeira e beneficiando de um bem sucedido duro programa de ajustamento e da recuperação geral da economia europeia, Portugal, ainda que marcado por continuadas debilidades estruturais – endividamento, baixa produtividade, peso e dependência do Estado, baixo potencial de crescimento, nomeadamente –, tem registado, nos últimos anos, um maior dinamismo económico e procurado não deixar desestabilizar a débil situação financeira. 

Ao mesmo tempo, o País tem tirado partido, para além das suas qualidades naturais, de uma crescentemente favorável percepção internacional, alimentada por alguns sucessos de grande efeito mediático – como foi a vitória no Europeu de Futebol e no Festival da Eurovisão de 2017 –, pela segurança que proporciona perante crescentes instabilidades envolventes, pela projecção internacional de alguns dos seus mais talentosos, entre os quais se destaca inevitavelmente Cristiano Ronaldo, e pela realização de eventos de grande impacto, sobretudo entre as gerações mais jovens e mais modernas, como é a Web Summit.

Os efeitos dessa favorável percepção têm-se traduzido num notável boom turístico, na atração de residência para personalidades de grande notoriedade mundial, e na atenção dedicada por diversos trend setters, que têm potenciado significativamente o cosmopolitismo das suas principais cidades. O País respira, assim, um ar de grande modernidade e de alguma prosperidade, que tem fortalecido a sua auto-estima e auto-confiança.

A crise económica e financeira, porém, provocou uma enorme destruição de valor em muitas empresas, financeiras e não financeiras. Dessa destruição resultou um enfraquecimento geral deste segmento económico – apesar de algumas notáveis excepções –, que tem vindo paulatinamente a ser debelado por empenhadas estratégias de recuperação e afirmação. Mas é um facto que emblemáticas marcas ficaram seriamente debilitadas, e que uma parte importante das grandes empresas acabaram dominadas por entidades estrangeiras, ou ser nelas integradas, e sujeitas, portanto, a estratégias, empresariais e geopolíticas, que transcendem o nosso país. A resultante rarefacção no número de empresas independentes não podia deixar de se fazer sentir no mercado de capitais, com um significativo estreitamento, nomeadamente no seu segmento mais destacado, como é o representado pelo PSI 20, que viu perder alguns dos seus emblemas de longa tradição.

Mas, há que reconhecê-lo, importantes deficiências de governance ampliaram, em muitos casos, e muito para além do que foram os efeitos da crise, a destruição de valor verificada. O que não pode deixar de colocar o tema da boa governance das empresas no centro das preocupações das próprias empresas, dos gestores, da academia, da sociedade em geral, e do próprio regulador, se se quiser evitar a repetição dos erros do passado e prevenir as destruições de valor a que os mesmos conduzem. Deixo, por isso, este desafio à reflexão de todos.

Regista-se, no entanto, e pela positiva, a proliferação de start-ups que têm vindo a procurar afirmar-se, sobretudo no campo das novas tecnologias, e que abrem uma importante janela de esperança para o futuro. Esperança de que possam vir a tornar-se protagonistas por excelência do desafio condensado no nosso mote deste ano: Leading transformation, Defining evolution! E que possam vir, num tempo que esperamos seja próximo, a enriquecer o nosso portefólio de empresas de referência e o nosso mercado de capitais.

Os IRGA – Investor Relations & Governance Awards – têm procurado sensibilizar os gestores, e demais intervenientes no processo de relação das empresas com o mercado, para a importância do adequado relacionamento destas com os investidores, tendo em conta que tal relacionamento é um jogo de jogadas repetidas, em que a credibilidade conquistada, jogada a jogada, é fundamental para o sucesso do jogo. Porque, por um lado, e estabelecendo uma base de confiança, torna mais fácil cada nova jogada, diminuindo o que os economistas chamam de custos de transacção (para ambos os lados) e com isso criando mais valor económico e social. E porque, por outro lado, sendo a credibilidade, e a confiança que inspira, valores muito sensíveis, demoram tempo a construir-se pacientemente, mas podem desmoronar-se num instante de irresponsabilidade, como a história nos mostra abundantemente. 

Pelo nosso lado, voltamos a jogo, para atribuir reconhecimentos pelos que mais se distinguiram nos campos que são objecto dos nossos prémios,  esperando que as distinções atribuídas incentivem os distinguidos a perseverar no merecimento agora alcançado e a todos a esmerar-se na senda da excelência para a disputa dos prémios futuros.

À Deloitte, organizadora e patrocinadora desta iniciativa, e que há trinta e um anos nela persiste diligentemente, visando o desenvolvimento e solidificação de uma cultura de mercado com princípios, o nosso apreço e o nosso estímulo para que assim continue. 

Vítor Bento
Presidente do IRG Awards 2018

"Os IRGA – Investment Relations & Governance Awards – têm procurado sensibilizar os gestores, e demais intervenientes no processo de relação das empresas com o mercado, para a importância do adequado relacionamento destas com os investidores"