As cidades tendem a ser concebidas de modo a que as comodidades e a maioria dos serviços estejam a uma distância de 15 minutos a pé ou de bicicleta, criando uma nova abordagem de vizinhança.
O conceito de cidade dos "15 minutos" — desenvolvido principalmente para reduzir as emissões de carbono através da diminuição da utilização de automóveis e do tempo de deslocação motorizada — é um modelo de planeamento urbano descentralizado, em que cada bairro local contém todas as funções sociais básicas para viver e trabalhar. Muitas pessoas defendem que o conceito de criação de bairros localizados, nos quais os residentes podem obter tudo o que necessitam num espaço de 15 minutos a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, acabará por melhorar a qualidade de vida. Estes espaços implicam bairros polivalentes em vez de zonas específicas para trabalhar, viver e divertir-se, reduzindo a necessidade de deslocações desnecessárias, reforçando o sentido de comunidade e melhorando a sustentabilidade e a habitabilidade.
Atualmente, a maioria das cidades tem bairros "operacionais", com áreas separadas utilizadas predominantemente para negócios ou entretenimento; e o planeamento urbano fragmentado resulta numa expansão, com as pessoas a terem de percorrer longas distâncias através da cidade para chegarem ao seu destino. Em contraste, as cidades compactas do futuro, ou "hiperlocalização", dão prioridade a estratégias de infraestruturas urbanas que visam trazer todos os elementos para viver e trabalhar para as comunidades locais.
A cidade de "15 minutos" é uma iteração da ideia de "unidades de vizinhança" desenvolvida pelo urbanista americano Clarence Perry durante a década de 1920. A teoria do "novo urbanismo", um conceito de planeamento urbano e design que promove as cidades com mobilidade pedonal, ganhou posteriormente popularidade nos EUA na década de 1980. Versões semelhantes de "células urbanas" ou bairros de 30 e 20 minutos também surgiram por todo o mundo na última década.
O modelo de rezoneamento ganhará mais força no futuro, impulsionado durante a pandemia da COVID-19 por novas formas de trabalho que exigem menos transportes. Sendo as alterações climáticas uma das principais preocupações mundiais, a C40, na sua Agenda dos Autarcas da C40 para uma Recuperação Verde e Justa1 , recomendou este modelo para as cidades de todo o mundo, argumentando que a sua abordagem pedonal contribui para a redução das emissões de gases com efeito de estufa e apoia a sustentabilidade ambiental. Mais concretamente, a "15-minute city" foi popularizada em 2019, por Paris, e é uma iniciativa emblemática do atual programa para a cidade.
O objetivo é disponibilizar serviços essenciais, diferentes tipos de habitação e mais espaços verdes a uma distância de 15 minutos a pé ou de bicicleta. Algumas cidades, como Paris e Nova Iorque, que estão relativamente mais maduras no que respeita a este conceito, lançaram orçamentos participativos para promover o envolvimento local como parte da sua estratégia de transformação da cidade. As cidades centradas no novo urbanismo e em conceitos flexíveis, como Bogotá, Seattle e Milão, estão a dar prioridade ao investimento em infraestruturas para peões e ciclistas. Embora esta abordagem possa não ser inteiramente aplicável a todas as cidades — por exemplo, é provavelmente mais adequada para uma grande metrópole do que para cidades mais pequenas — o trabalho à distância e a digitalização dos serviços aumentaram o ímpeto para aplicar o princípio do planeamento de bairro, independentemente da dimensão da cidade.
"Gostaria de viver numa cidade autossustentável. Como urbanista, concentro-me na importância do planeamento dos bairros e a cidade de 15 minutos oferece-nos essa autossustentabilidade."
— Maimunah Mohd Sharif, Diretora Executiva da UN-Habitat
"As empresas estão a planear ter escritórios satélites locais perto de onde as pessoas vivem, o que reduzirá as deslocações pendulares. É bem possível que acabe por haver muita propriedade subutilizada nas cidades que possa ser convertida em habitação a preços mais acessíveis e, nessas áreas suburbanas, incentivará o desenvolvimento dos ativos da cidade: aldeias, uma espécie de microcidades. As cidades podem ser uma rede de comunidades mais resilientes e habitáveis. Esta é uma tendência inevitável".
— Kent Larson, Diretor of CityScience Group no MIT MediaLab
Pode aceder às ligações para estas fontes, quando disponíveis, na página 148 do estudo Urban Future with a Purpose.