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Como é que os departamentos jurídicos podem ajudar as suas organizações a ultrapassar uma recessão global

As taxas de juro em todo o mundo estão a subir e uma recessão global parece cada vez mais provável. Valeria Vazquez, Partner, Deloitte Legal, México, analisa a forma como os departamentos jurídicos das empresas podem estabelecer parcerias com as suas organizações para tornar as suas operações mais eficientes.

Enquanto a Europa parece estar na linha da frente de uma possível recessão, outras regiões apresentam sinais de fragilidade económica, aumentando os receios de uma crise global. A invasão russa da Ucrânia desencadeou uma escalada nos preços da energia e a aplicação de sanções, agravando problemas económicos e políticos. A isto somam-se os impactos de dois anos de disrupções nas cadeias de abastecimento devido à pandemia e medidas protecionistas adotadas pelos governos para apoiar indústrias nacionais, o que tem contribuído para o aumento acentuado das taxas de inflação na Europa.

É natural que as organizações estejam a adotar medidas de redução de custos para enfrentar estes tempos económicos difíceis. Neste contexto, os departamentos jurídicos podem revelar-se aliados na estratégia para manter a produtividade e a eficiência.


Contratácticas de resposta
 

As recessões normalmente implicam uma reavaliação das estratégias para as organizações, e muitas estarão a analisar os seus portfólios de investimento.

Envolver o departamento jurídico como parte da estratégia para mitigar os efeitos de uma recessão é uma consideração estratégica importante para a administração. Muitas vezes, o jurídico é consultado apenas após as decisões serem tomadas, mas integrá-lo no planeamento desde o início permite alinhar as decisões com os aspetos fiscais e financeiros, tornando o processo mais eficiente e coeso.

É uma tática comum optar por reduzir os custos em todas as áreas, incluindo nos serviços jurídicos, mas isso pode ser trazer consequências negativas. Se há questões jurídicas que a empresa precisa de tratar, deve fazê-lo, porque adiá-las pode ser contraproducente. Caso a empresa esteja a passar por uma reorganização ou a implementar um novo programa de compliance, é essencial procurar maior eficiência, mas nunca suspender esses processos fundamentais.


Foco de Legal
 

A externalização dos serviços jurídicos é muitas vezes utilizada para grandes projetos, para os quais é necessária uma estratégia ou visão mais global. Os departamentos internos tendem a concentrar-se nas operações diárias, manutenção e compliance. No entanto, em cenários económicos instáveis, pode valer a pena considerar a externalização dessas tarefas. Esta decisão pode muitas vezes ser a diferença entre ter um departamento jurídico caro e um mais acessível.

Como já foi referido, suspender projetos e disputas jurídicas não é recomendável, mas uma medida de redução de custos pode ser delegar a estratégia a uma terceira parte. Isso pode ser especialmente útil em iniciativas como a abertura de uma nova filial ou o lançamento de uma nova operação. A externalização pode ainda trazer uma riqueza de experiência e soluções criativas, testadas e comprovadas em diferentes setores da indústria.


O CG proativo


Um GC proativo deve analisar todos os aspetos das operações do seu departamento jurídico e reavaliar as suas prioridades. Será necessário preparar-se para uma nova onda de regulamentações e compliance, à medida que os órgãos reguladores renovam o seu foco nas atividades corporativas.

Parte da análise de um GC deve envolver a externalização de operações sempre que fizer sentido, reduzindo custos enquanto mantém o funcionamento eficiente do departamento jurídico. Outra abordagem pode ser identificar ineficiências e explorar formas de otimizá-las, como, por exemplo, por meio da automação, por exemplo.

Por fim, pode ser inevitável impor um congelamento de contratações ou até mesmo reduzir a equipa. É recomendável uma análise cuidadosa da composição da equipa jurídica para identificar quais membros são críticos para o negócio, especialmente durante períodos de recessão económica e na fase de recuperação. Além disso, é importante avaliar, com base numa análise de custo-benefício, como a saída de determinados colaboradores pode impactar a moral e o desempenho da restante equipa. Este é um ponto que deve ser abordado de forma estruturada e estratégica com a Administração.


Não há uma bola de cristal


A crise financeira global de 2008 trouxe lições importantes: foi um período de grande inovação. Os advogados demonstraram criatividade ao reestruturar diversos empréstimos e instrumentos financeiros impactados pela crise.

Não há bola de cristal para prever o rumo da economia e do mercado. No entanto, um conselho de administração que enfrenta uma crise económica lado a lado com o seu departamento jurídico demonstra sabedoria estratégica.


Autor:
Valeria Vazquez, Partner, Deloitte Legal México