Quando as notícias económicas globais se assemelham a uma tragédia grega, não é surpresa que as organizações multinacionais estejam à procura de cortar despesas. Uma das opções para os executivos que procuram reduzir custos enquanto tomam decisões sensatas para garantir o futuro das suas empresas é considerar a centralização das suas estruturas de governance. John Paans, Global Leader Corporate Law – Deloitte Legal, analisa as questões práticas para as empresas que ponderam uma estrutura jurídica centralizada.
Um estudo da Thomson Reuters de 2019 reforça a observação sobre a centralização de governance ao afirmar: “No próximo ano, a maioria dos inquiridos terá centralizado o seu processo de reporte obrigatório num Centro de Serviços Partilhados: 44% já o fazem, e 15% planeiam fazer a transição nos próximos 12 meses. Adicionalmente, 18% indicam a intenção de passar de um reporte local para centralizado num prazo de dois a cinco anos. Muitas organizações estão à procura de novas áreas para gerar poupança e eficiência. O reporte obrigatório está a emergir como um forte candidato à centralização, padronização e automação.”
O clima económico e político global tem-se intensificado ao longo do tempo, gerando uma série de complexidades para as multinacionais, incluindo sanções, inflação, medidas protecionistas por parte dos governos em favor das indústrias nacionais, recessão e problemas nas cadeias de abastecimento devido à COVID-19.
As empresas podem beneficiar de uma abordagem estruturada para lidar com as complexidades do ambiente global mencionado. Se uma organização for alinhada e flexível, com capacidade para ajustar o seu modelo ou tomar decisões necessárias para se adaptar a alterações específicas no contexto em que opera, o passo lógico é centralizar, coordenar e alinhar as suas estruturas de gestão.
Historicamente, era comum as grandes multinacionais terem advogados espalhados pelo mundo. Diferentes jurisdições possuem legislações distintas, e é vantajoso contar com especialistas locais que estejam próximos do negócio.
As coisas estão a evoluir. Há agora mais oportunidades de externalizar apoio jurídico especializado para prestadores alternativos de serviços legais ou de criar operações internas de serviços partilhados, utilizando tecnologia jurídica inovadora, como ferramentas centralizadas de gestão de contratos e de formação, ou plataformas de workflow baseadas na cloud. Estas soluções tornam a centralização de algumas atividades jurídicas, como a gestão de entidades mais prática e eficiente.
As desvantagens de uma estrutura jurídica descentralizada no contexto atual estão a tornar-se cada vez mais evidentes. Do ponto de vista da gestão, alinhar as operações de negócio dentro de uma estrutura de gestão descentralizada nem sempre é tarefa fácil. Estas estruturas, ao possuírem autonomia própria, tendem a gerar tensões entre as perspetivas local e global.
Existem várias considerações e ações que um General Counsel (GC) deve tomar antes de centralizar o seu departamento jurídico.
Em algumas jurisdições, devido a um ambiente regulatório mais exigente, pode ser necessária uma presença local com diretores locais. O mesmo pode ser aplicado à necessidade de ter advogados locais no terreno.
Analise as atividades da empresa numa escala macro e avalie se ainda faz sentido ter alguém a tratar dos assuntos jurídicos numa determinada geografia.
Os colaboradores não gostam de surpresas, e as mudanças precisam de ser bem geridas. Garantir que a transição para a centralização é comunicada de forma clara e com antecedência – incluindo o racional estratégico que a justifica – contribuirá para que sejam mais recetivos e colaborativos.
Em empresas que têm diferentes áreas de negócio, com determinados serviços concentrados em países específicos, o argumento para a centralização pode não ser tão forte.
Considere também o impacto que essa mudança terá na estrutura organizacional da sua empresa. Se for necessário gerir a partir de uma estrutura centralizada, por exemplo, questões fiscais, nesse caso também faz sentido centralizar a área jurídica.
Tendo tudo em consideração, o GC tem uma tarefa difícil pela frente, independentemente da centralização de governance ser ou não apropriada.
Se centralizar governance fizer sentido para a sua organização, simplificará muitas decisões necessárias para responder rapidamente a fatores externos. Se precisar de aconselhamento, garanta que o seu prestador de serviços tem uma boa cobertura global, apoiada numa equipa qualificada e multidisciplinar, capaz de o apoiar na transição em todas as jurisdições relevantes.
Autor: John Paans