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2025 Banking Insights: Perspetivas e desafios

O ano de 2024 ficará na história como um dos melhores do setor bancário português. O adiamento do processo de descida de taxas de juro, previsto para 2024, combinado com modelos de negócio muito eficientes e com alavancas de geração de valor para além da margem financeira, permitiram níveis de rentabilidades invejáveis, posicionando o setor bancário nacional acima da média europeia em todas as métricas de rentabilidade.
O percurso feito pelo setor bancário português nos últimos anos, permite enfrentar 2025 com todos os fundamentais de negócio em trajetória sólida:

  • A margem financeira manter-se-á acima da média histórica, apesar da expectável descida das taxas de juro face a 2024, dado i) o incremento de peso de créditos a taxas fixas ou mistas, ii) uma aceleração da transmissão da descida de taxa de juro nos depósitos por níveis confortáveis de liquidez e iii) o resultado de estratégias de cobertura de risco de taxa de juro.
  • O produto gerado por comissionamento continua a ser uma das alavancas de geração de valor dos modelos de negócio da Banca Portuguesa, esperando-se ainda melhorias marginais.
  • O custo de risco continuará a beneficiar do bom momento do mercado de trabalho e da expectativa de reduções adicionais nas taxas de juro, podendo-se observar alguma deterioração da qualidade do crédito em carteiras menos materiais, como o crédito ao consumo, por iniciativas de expansão desta linha de negócio com necessidade de aperfeiçoamento do modelo de aceitação e monitorização de risco de crédito e risco de fraude.
  • Na estrutura de custos, a ambição de eficiência é condicionada por fatores inflacionistas, na medida em que Banca continua a ter de investir na sua modernização tecnológica e manter a política de contratação de recursos qualificados, não havendo espaço muito relevante para otimizações radicais de custo no atual modelo operativo. Assim esperamos variações moderadas da estrutura de custos que resultem de contenção firme de níveis de Opex com manutenção do ritmo de investimento.
  • Do ponto de vista da evolução do balanço, as expectativas são positivas nas principais linhas de negócio: i) nos segmentos de retalho, a trajetória de descida de taxa de juro, conjugada com a garantia pública a jovens e o défice de oferta de casas impulsionará o Crédito à Habitação, enquanto na captação de recursos antecipamos um maior trade-off com investimentos fora de balanço; ii) nos segmentos de empresas, o novo foco de políticas públicas para o desenvolvimento do tecido empresarial, conjugado com os pacotes de investimento plurianuais, e num contexto de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) poderá impactar positivamente, apesar do arrefecimento de algumas economias com as quais Portugal tem mais relações comerciais.


Independentemente do contexto macroeconómico de cada ano, a estratégia de condução do negócio bancário tem tido como enquadramento um conjunto de tendências estruturais que influenciam a agenda dos executivos.

O Outlook de Banking & Capital Markets 2025 da Deloitte lança um conjunto de perspetivas globais sobre estas macrotendências. Do conjunto de insights do nosso estudo, gostaríamos de destacar cinco tendências que acreditamos serem relevantes para o setor bancário português. Assista ao vídeo introdutório e explore cada tendência:

A Inteligência Artificial (IA) subiu na agenda executiva com a disponibilização massiva de Inteligência Artificial Generativa (GenAI) para o mercado. Contudo, após um ano de investimento, emerge a perceção de uma sobrestimação do impacto a curto prazo o que poderá simultaneamente conduzir ao risco de uma subestimação da transformação a médio prazo.

O setor bancário português abraçou esta nova vaga tecnológica, contudo, apesar de se observarem casos muito interessantes, continuou a investir apenas com base no potencial, não havendo ainda nenhuma experiência com escala e que seja game changer.

Acreditamos que durante 2025, o setor bancário português continuará a investir em IA com vista a manter um padrão de inovação tecnológica e encontrar domínios que possam entregar mais valor nomeadamente:

  • Aumento de eficiência em matérias de backoffice, tanto nas áreas de tecnologia (desenvolvimento, migração, teste) como nos processos de operações (leitura e interpretação de documentos, emissão de contratos, gestão de conhecimento interno).
  • Aumento de eficiência em algumas atividades de Inbound de clientes, nomeadamente gestão de reclamações (análise e pré-preenchimento de respostas), substituição de algumas componentes de help-desk (eg: confirmação de transações).

Entendemos que a agenda de 2025 terá mais espaço para iniciativas, de caráter plurianual, que incluam IA enquanto ferramenta de migração de plataformas legacy de gestão operacional ou de dados para novas tecnologias. Esta matéria ganhou relevância na medida em que a dívida técnica dos sistemas de informação e repositórios informacionais constitui cada vez mais um obstáculo à transformação e à exponenciação da utilidade da IA no setor.

A médio prazo, a IA poderá transformar de forma profunda a operação de um Banco tal como a conhecemos hoje. O atendimento ao cliente poderá ser uma das áreas mais impactadas pela GenAI, com a adoção de assistentes virtuais com capacidades avançadas de diálogo em voz, texto ou vídeo. Os canais digitais poderão ser muito diferentes do que conhecemos hoje, com uma experiência de utilização baseada em diálogos de voz e com informação a ser apresentada de forma dinâmica baseada nesse mesmo diálogo. O potencial desta tecnologia é impressionante, proporcionando uma interação mais imersiva.

 
Assista ao vídeo sobre esta tendência: 

As várias iniciativas comerciais observadas no mercado resultaram sobretudo em ganhos marginais de quota permitindo em alguns casos uma alteração do posicionamento competitivo, ainda que com custos de curto prazo não desprezíveis. Assim sendo, entendemos que estratégias baseadas em aumento da oferta e aumento da profundidade da relação com os clientes, ganharão mais peso na agenda do próximo ano:

  • Através de mais produtos em jornadas intuitivas e simples.
  • Premiando os clientes por maior profundidade de relacionamento com o banco, ou maior detenção de produtos, numa abordagem de fidelização que permita ao cliente usufruir de benefícios em produtos não financeiros de parceiros ou produtos do próprio banco.
  • Abordando de forma mais especializada nichos ou clusters de clientes com necessidades específicas (e.g. microempresas com perfil digital, subsetores empresariais de elevado potencial e necessidades específicas, residentes não habituais ou nómadas digitais, imigrantes e comunidades estrangeiras, séniores, etc.)
  • Continuando a investir na jornada da micro personalização, traduzindo o conhecimento acumulado sobre cada cliente (bibliotecas de centenas de eventos que são trigger para o Banco poder ter um diálogo relevante) em interações contextualizadas, no momento certo, no canal adequado e com a mensagem e conteúdo que faz sentido para aquele cliente, naquele momento.

Assista ao vídeo sobre esta tendência:

Esperamos em 2025 uma intensificação de iniciativas focadas em crescimento da base de clientes, com maior foco em segmentos menos explorados ou com maior potencial de valorização a médio prazo, nomeadamente:

  • O posicionamento mais próximo da necessidade de financiamento, nomeadamente o momento de procura de casa, de automóvel, de um bem de consumo com foco sobretudo no crescimento de não clientes, implicando trabalhar em parceria com outro tipo de entidades não financeiras;
  • A sofisticação da oferta para segmentos seniores, agregando serviços complementares à oferta bancária tradicional de poupança, proteção e reforma (e.g. downsizing habitação, oferta saúde, serviços domiciliários, etc);
  • O reforço da aposta no segmento de expatriados e residentes não habituais - melhoria de jornadas que permitam captar estes clientes numa fase inicial e prévia à mudança, através de protocolos com players dos países origem (e.g. sociedades de advogados, consultoras fiscais, sociedades gestoras de património, brokers real estate, Bancos, etc). Adaptação da proposta de valor para clusters / comunidades com maior representatividade (e.g. perfil do gestor, língua, parcerias, etc);
  • Um novo foco no segmento de micro e pequenas empresas, combinando o desenvolvimento de ofertas digitais padronizadas e simples com um reforço da capacidade de advisory através de modelos de serviço que conciliam a proximidade física – gestores de negócios nos balcões – com gestores à distância especializados setorialmente;
  • Um enfoque nas oportunidades de financiamento de clientes e projetos que decorrerá do expectável reforço muito expressivo dos níveis de investimento publico e privado previstos para 2025 e 2026;
  • A aposta o alargamento da oferta Bancassurance de saúde, capitalizando no crescimento que este ramo tem apresentado nos últimos anos em Portugal.

Adicionalmente, poderão existir, em 2025, oportunidades de fusão e aquisição, enquanto alavanca para expandir a carteira de clientes e reforçar a eficiência operacional. O atual contexto de consolidação observado a nível europeu e os confortáveis níveis de capital dos bancos oferecem uma base sólida para a exploração de oportunidades de M&A.


Assista ao vídeo sobre esta tendência: 

O setor bancário opera num trade-off entre satisfação e segurança de cliente, sendo esta materializada em processos de gestão de risco e de cumprimento regulamentar. Assim sendo, o Cost of Serve do setor continua a ser uma variável crítica e com tendência para aumentar, tendo em conta a abordagem regulatória vigente no contexto europeu.
Neste contexto, o setor bancário português assume-se como um dos mais eficientes da Europa, contribuindo para este efeito um quadro salarial favorável, mas também um processo consistente e continuado de captura de eficiência.
Contudo a pressão de subida de salários do capital humano necessário para a transformação e a necessidade continuada de investimento adicionam pressão na estrutura de custos. Considerando este desafio esperamos em 2025:

  • Alargamento de mecanismos de remuneração variável indexada a objetivos comerciais como medida de incremento de produtividade versus incremento do quadro de colaboradores;
  • Aumento de automação, incluindo a utilização de IA, para substituir processos repetitivos e sem valor acrescentado;
  • Continuidade do investimento em funcionalidades de self-banking 24 por 7, libertando colaboradores de tarefas administrativas;
  • Integração nas novas jornadas digitais de processo de controlo de risco mais fortes para minimização futura de custos de remediação ou de incremento de custos de segunda e terceira linhas de controlo;
  • Revisão de estruturas de custo tecnológico otimizando a arquitetura tecnológica;
  • Otimização do equilíbrio cloud vs prem assim como dos consumos em cloud.

    Por outro lado, impera a necessidade de aumento de escala para diluir o Cost to Serve em operações de maior dimensão. Pelo que a consolidação, enquanto resposta a uma estrutura sustentável de custos, continua a ser um elemento da agenda que poderá ser observado em 2025.

Assista ao vídeo sobre esta tendência:

Embora a perspetiva de grandes novas iniciativas regulatórias a serem introduzidas no curto prazo pareça baixa, os Bancos continuarão a enfrentar vagas de remediação e a responder a expectativas regulatórias em evolução.
O workload de componentes regulatórias em curso continua elevado nomeadamente em matérias de cumprimento com CRR/CRD (adoção ainda limitada de modelos avançados de risco de crédito, necessidade de melhoria ao IRRBB), DORA, Crime Financeiros, entre outros.

Contudo, em 2025 a pressão do Supervisor será para que os Bancos, bem capitalizados e com rentabilidade relevante, voltem a investir em matérias consideradas estruturais. Entendemos que esta tendência será muito visível em matérias como Gestão de dados e Resiliência. Adicionalmente é de destacar o reforço de preocupação com Cultura de risco e Governo interno.

  • Gestão de dados - reforço do governo de dados, investimento na rastreabilidade integral dos dados usados na gestão de risco e reporte e foco na garantia de qualidade implicam investimentos elevados, obrigando a estratégias de execução bem desenhadas. Por outro lado, trata-se de investimentos que podem ser sinérgicos para os pontos de agenda de negócio;
  • Cultura de risco e Governo interno – os órgãos de administração e governo estão sob pressão para demonstrar que conduzem o Banco de uma forma ágil, efetiva e forward-looking sendo que a disponibilização de informação correta, relevante e tempestiva constitui uma peça crítica.

Adicionalmente, existe a expectativa que os órgãos de administração e governo sejam muito mais ativos no desenvolvimento de uma cultura de risco e o consigam demonstrar.
De referir que a EBA fortaleceu os mecanismos de penalização por incumprimentos regulatórios o que constitui uma ferramenta de pressão efetiva para a implementação de programas estruturais de resolução de debilidades percecionadas pelo Supervisor.
 

Assista ao vídeo sobre esta tendência: 

Conclusão

O setor bancário português entra em 2025 com ventos favoráveis podendo contribuir ainda mais para o desenvolvimento do país e fortalecer o seu posicionamento no contexto europeu enquanto setor rentável, sólido e inovador. 

Notas finais
 
  1. 2025 Banking and Capital Markets Outlook. (n.d.). Deloitte United States. https://www2.deloitte.com/us/en/insights/industry/financial-services/financial-services-industry-outlooks/banking-industry-outlook.html [acedido em dez. 2024]

Conheça a perspetiva global no estudo 2025 Banking and Capital Markets Outlook e assista ao vídeo sobre as principais tendências para o setor bancário a nível mundial:

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