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Estamos em 2030 e a Europa continua a ser uma região atrativa para viver. Dentro desta região, no entanto, as disparidades em termos de riqueza aumentaram.

O futuro do setor tecnológico europeu, 2030

O chamado “quartil superior” – que constitui 11 das 44 nações europeias - prosperou na década 2020, com uma ética tecnológica pioneira que permitiu a transformação digital das principais indústrias e do setor governamental destes países. Este grupo autointitulava-se como a fábrica de unicórnios. Já os restantes países, denominados de “quartil inferior” – depreciativamente referidos como os floppy disks (ou disquetes, em português) - sentiram dificuldades, resultado tanto de adversidades como de más escolhas políticas feitas ao longo da década.

Existem agora quatro grupos distintos de países na Europa, cada um com a sua própria trajetória, sustentados pela sua criação, bem como pela utilização da tecnologia, seja esta nacional ou global. As economias do quartil superior representam agora dois terços do PIB da região, mas apenas um terço dos 600 milhões de pessoas da Europa. Prevê-se que este grupo venha a gerar 80% do PIB até 2040. As nações ricas tornar-se-ão mais prósperas e as mais fracas mais pobres. Esta divergência é suscetível de exacerbar as tensões existentes entre os diferentes blocos.

As raízes destas vias económicas divergentes podem ser traçadas desde o início da década. Em 2021, a Europa celebrou o seu primeiro ano em que foram gerados 100 unicórnios. Foi também um ano de investimentos de capital de risco, com 75 mil milhões de dólares. E pareceu ser um ponto de inflexão: A Europa recuperou a liderança sobre a China no que se refere ao número de unicórnios criados. À primeira vista, o sucesso parecia estar bem distribuído, com mais de 70 cidades na Europa a abrigar, pelo menos, um unicórnio. No entanto, o sucesso na tecnologia concentrava-se em três países, que representavam metade de todos os unicórnios criados em 2021. Os restantes eram de mais oito países, não havendo nenhum no resto da Europa.

Ao longo da década, as economias deste bloco de fábricas de unicórnios tornaram-se progressivamente mais centradas na tecnologia e passaram a fazer parte de um clube de elite de países a nível mundial centrados na tecnologia. Alguns dos melhores unicórnios tornaram-se decacórnios e encontravam-se entre as start-ups mais valiosas a nível mundial. Quando passaram a ser cotadas, valiam centenas de milhares de milhões de dólares - embora nenhuma tenha atingido o cobiçado estatuto de triliões de dólares. O ecossistema de consultores profissionais e financeiros ao serviço das empresas tecnológicas tornou-se cada vez mais especializado e diversificado.

Cidades com uma elevada número de empresas de tecnologia, incluindo um número crescente de unicórnios, estavam ansiosas por se tornarem laboratórios vivos para as soluções cada vez mais ambiciosas das empresas de tecnologia. Por exemplo, algumas cidades redesenharam os seus esquemas urbanos em torno de bairros inteligentes, concebidos para permitir maiores concentrações de pessoas que vivem e trabalham no mesmo espaço, com a intenção de otimizar a fertilização cruzada de ideias e reduzir os tempos de deslocação. As redes de energia foram também redesenhadas em torno da produção e armazenamento localizados. Este movimento provou ser presciente à medida que os impostos sobre o carbono se tornaram universalmente aplicados no final da década.

À medida que os países produtores de unicórnios se tornaram mais bem-sucedidos, os seus laços com outras grandes nações tecnológicas em todo o mundo fortaleceram-se. O talento movia-se igualmente entre estes mercados e os vistos para os melhores talentos tecnológicos eram aparentemente ilimitados. Em contrapartida, houve um êxodo constante de talentos dos países menos centrados na tecnologia dentro da Europa.

Os países economicamente mais fracos da Europa, frustrados pela sua capacidade de criar tecnologia a nível doméstico, convidaram as empresas globais de tecnologia a criar centros de excelência, instalações de investigação e design, e centros de fabrico no seu país. Ofereceram grandes incentivos fiscais para atrair as empresas, algumas das quais acabaram por lançar todas as nações licitantes umas contra as outras.

Um fornecedor de semicondutores, que prometeu instalar uma nova unidade de fabrico de 20 mil milhões de dólares, conseguiu obter um subsídio de 50% da nação anfitriã, juntamente com a garantia de uma isenção fiscal de 10 anos. Também prometeu mais de 1000 novos empregos de alta tecnologia, um compromisso que foi cumprido, mas com o pessoal mais valioso a chegar de outros países, devido à falta de conhecimentos locais.

Assim, a partir de 2030, as trajetórias para os diferentes blocos na Europa parecem ser muito difíceis de reiniciar. As economias do quartil superior ostentam muitos atributos positivos: o PIB per capita mais elevado; uma esperança de vida de 91 anos, possibilitada pela monitorização obrigatória de relógios inteligentes; baixas emissões por pessoa resultantes de uma rede de energia inteligente, transporte pesado movido a hidrogénio e a externalização de atividades poluentes; e taxas de criminalidade mais baixas após a implantação de um reconhecimento facial generalizado. Os outros países europeus olham com desdém para o materialismo do bloco de unicórnios e a volumosa recolha de dados. Também invejam profundamente o anúncio de cada novo decacórnio criado.

Este cenário corresponde a uma das quatro visões do futuro. As empresas são fictícias, mas a narrativa é baseada em factos, eventos e tecnologias reais.

 

 

 

Os drivers e impulsionadores do cenário « Greatness divided».

A Europa tornou-se famosa pelos seus centros de excelência em múltiplas tecnologias, no entanto, estas capacidades estão, na sua maioria, concentradas entre os países do quartil superior, tendo sido desenvolvidas a nível interno ou adquiridas a outros países. As empresas tecnológicas investem fortemente a pensar no futuro: estão conscientes de que só serão tão boas quanto o “êxito de bilheteira” da década seguinte.

A melhor e mais brilhante tecnologia e gestão fluem para o bloco de unicórnios, e também para países centrados na tecnologia fora da região, encorajados por vistos acelerados para os melhores talentos. Para os tecnólogos, o quartil superior dos países oferece os melhores recursos e as melhores pessoas com quem trabalhar; em termos de gestão, o bloco de unicórnios oferece uma regulamentação leve e as maiores recompensas financeiras.

Existem grandes variações na abordagem de gestão. Entre os países do quartil superior, a abordagem de gestão está fortemente alinhada com outras grandes nações tecnológicas, ou seja, com foco na rapidez e audácia, alimentado por uma paranoia de perder a próxima grande coisa. A gestão está constantemente à procura de novas oportunidades para adicionar aos fluxos de receitas existentes para posteriormente aumentar e diminuir rapidamente, com o objetivo de manter os níveis de crescimento global. Nos outros países, as abordagens de gestão são mais tradicionais e sentem-se piões por comparação.

O capital flui livremente onde este deseja fluir, principalmente para um pequeno grupo de nações tecnológicas. Existe financiamento em outros setores, mas este é limitado devido ao grande financiamento em empresas de tecnologia pura, bem como de empresas tecnológicas em fase de arranque criadas para revolucionar os setores ou processos verticais existentes.

As lacunas nas principais métricas económicas continuam a crescer entre os países mais ricos e os mais pobres. O bloco de unicórnios ressente-se de ter de socorrer periodicamente os países mais fracos. Os países do quartil inferior sentem que são tratados de forma complacente e condenados pelas condições associadas a cada resgate financeiro. A diminuição do desempenho económico dos países mais pobres e a crescente concentração do rendimento disponível entre o quartil superior estão a reduzir o mercado efetivo na Europa. Esta situação está a reduzir o benefício das empresas tecnológicas europeias que vendem para o seu mercado doméstico e, sem dúvida, também a restringir a sua capacidade de atingir uma avaliação de triliões de dólares.

A riqueza dispersa permitiu o aumento do extremismo populista, incentivando os eleitores a fazer escolhas erradas na eleição de líderes cujas promessas são impossíveis de cumprir. Alguns políticos beneficiam em culpar as empresas tecnológicas tanto do bloco de unicórnios como de outras regiões, o que tem o efeito de desencorajar o investimento interno. Esta situação agrava as dificuldades económicas, mas a culpa é dirigida às empresas tecnológicas. Dentro dos países mais ricos, existe um ressentimento crescente nas empresas tecnológicas, bem como algumas das aplicações da tecnologia, incluindo o reconhecimento facial automático, possibilitado pela implantação de redes de fibra.

Outras regiões consideram cada vez mais o bloco de unicórnios como o núcleo da Europa e ignoram os outros países. Desconfiam da crescente tensão política e do aumento do extremismo.

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