Este relatório analisa o universo das empresas familiares – mostrando como elas se posicionam global e regionalmente em termos de número e faturamento, além de revelar como estão gerenciando riscos e planejando estratégias para garantir o sucesso a longo prazo.
As empresas familiares são uma força motriz da economia global, moldando setores com inovação e resiliência. Para identificar as tendências mais recentes, realizamos uma pesquisa com 1.587 executivos seniores de empresas familiares em 36 países, das quais 101 são brasileiras – cada uma com faturamento mínimo de US$100 milhões e, juntas, representaram US$ 4,4 trilhões em 2024. Essas organizações, com receita média anual de US$ 2,8 bilhões e maioria de capital familiar, oferecem perspectivas únicas sobre crescimento, resiliência e governança.
Os insights da Deloitte Private foram enriquecidos por entrevistas aprofundadas com 30 líderes, muitos deles à frente de empresas familiares centenárias e multibilionárias. Este relatório reúne conselhos valiosos para ajudar empresas familiares a enfrentar desafios e planejar o sucesso a longo prazo.
Empresas familiares com faturamento de US$ 100 milhões ou mais representam 22% de todos os negócios no mundo. Atualmente, isso totaliza 18.087 empresas familiares, um aumento em relação às 16.194 registradas em 2020. Ajustando para fatores macroeconômicos, estima-se que esse número cresça para 19.744 até 2030, refletindo um aumento de 22% entre 2020 e 2030. A Europa deve ser a região com crescimento mais rápido, com estimativas indicando que o número de empresas familiares subirá 12%, passando de 4.084 em 2025 para 4.577 em 2030.
Confira a quantidade de empresas familiares em cada região:
Atualmente, todas as empresas no mundo geram um faturamento estimado de US$ 109 trilhões, sendo que as empresas familiares respondem por 19%, ou US$ 21 trilhões – um aumento em relação aos US$ 16 trilhões registrados em 2020. A receita das empresas familiares deve crescer para US$ 29 trilhões até 2030, refletindo um rápido aumento de 84% entre 2020 e 2030 – superando, de forma significativa, o crescimento esperado das empresas não familiares, projetado em 59%.
Esse panorama de crescimento se desenrola apesar de um cenário de incerteza econômica – apontado pelas empresas familiares, tanto no cenário global (68%) quanto no brasileiro (59%), como seu principal risco externo, observando que isso atrasa seus principais investimentos empresariais e iniciativas de crescimento, e 70% das empresas globais (73% no Brasil) relatando que acreditam que cenário tarifário impactará negativamente a economia ou seus negócios.
Entre outros fatores externos apontados como riscos para os negócios brasileiros estão as ameaças cibernéticas (57%), o custo de matérias-primas (56%) e o risco de ser ultrapassado pelo rápido avanço da tecnologia (56%).
Considerando o horizonte dos próximos 3 a 5 anos, 26% das empresas familiares globais e 37% das brasileiras planejam atrair investidores externos ou fundos de private equity para seus negócios. Além disso, 19% das empresas globais e 14% das brasileiras esperam ampliar a participação da gestão não familiar.
Em relação à abertura de capital, 12% das empresas familiares globais e 14% das brasileiras têm esse plano. A venda do negócio, por sua vez, é considerada por apenas 3% das empresas globais e 2% das brasileiras.
Embora diversos fatores influenciem essas decisões relacionadas à propriedade e à gestão, um ponto de destaque mencionado pelos líderes entrevistados foi a grande transferência de riqueza entre gerações. Como quase três quartos das empresas familiares pesquisadas estão em sua primeira (27% das globais e 31% das brasileiras) ou segunda geração (45% das globais e 41% das brasileiras), essa transição geracional tende a ter um impacto significativo no futuro desses negócios.
Embora 2024 tenha registrado uma taxa média global de crescimento de 8% na receita das empresas familiares, os entrevistados esperam um aumento para 12% em 2025 e 14% em 2026. Para alcançar esse crescimento, a estratégia mais adotada pelas empresas familiares – escolhida por 40% das organizações globais e 43% das brasileiras – é investir em inovação tecnológica, como inteligência artificial (IA), para melhorar a eficiência, reduzir custos e ampliar iniciativas.
Além disso, a implementação de IA ou outras soluções baseadas em tecnologia é a estratégia utilizada por 48% das empresas brasileiras para mitigar riscos, enquanto globalmente esse número reduz para 42%.
Sobre as estratégias para o crescimento, 36% das empresas globais estão focadas em diversificar suas fontes de receita por meio do lançamento de novos produtos e serviços, com o objetivo de ampliar sua presença no mercado e garantir maior sustentabilidade a longo prazo. No cenário brasileiro, os investimentos têm se concentrado especialmente no fortalecimento do reconhecimento de marca e no posicionamento estratégico (44%), e no desenvolvimento de parcerias ou alianças estratégicas (41%).
Para financiar essas prioridades de crescimento, as parcerias estratégicas ou joint ventures despontam como a principal estratégia de financiamento escolhida pelas empresas brasileiras. Atualmente, 52% delas utilizam essa abordagem para alavancar o crescimento, percentual que, globalmente, é de 42%. Nos próximos 1 a 2 anos, a mesma estratégia continuará ser a principal escolha por 52% das empresas brasileiras.
Com a União Europeia oferecendo um mercado único de mais de 450 milhões de pessoas e diante da incerteza sobre tarifas, a Europa é atualmente o principal destino para a expansão das empresas familiares, já que mais da metade (51%) planeja ampliar suas operações na região nos próximos 12 a 24 meses. Apesar das oscilações nas políticas, a América do Norte ocupa a segunda posição, com 48% das empresas buscando expandir para lá, seguida por 40% na Ásia-Pacífico, 28% no Oriente Médio, 28% na América do Sul e 17% na África.
Entre as empresas brasileiras, a aposta de investimento internacional, tanto no curto quanto no longo prazo, está concentrada em mercados vizinhos. A América do Sul e a América Central são mencionadas por 60% dos entrevistados como as regiões de crescimento econômico mais promissoras no curto prazo, e por 58% no longo prazo.
Empresas familiares lideradas por mulheres CEOs, que representam 23% das entrevistadas, registraram um crescimento de receita um pouco maior em 2024, de 10%, em comparação a 8% entre seus pares masculinos. Para sustentar esse crescimento, as mulheres aplicam táticas de mitigação de riscos em uma taxa superior à dos homens em todas as estratégias (por exemplo, realizar avaliações e auditorias regulares de riscos, investir em cibersegurança, estabelecer planos de contingência). Além disso, elas adotam mecanismos de governança em uma taxa mais alta do que os homens em quase todas as categorias (por exemplo, implementação de diretrizes éticas, criação de um estatuto familiar e formação de um conselho ou diretoria familiar).
No momento da pesquisa, as empresas familiares identificaram a incerteza econômica como seu principal risco externo, com 69% dos entrevistados classificando-o como risco moderado/alto e 68% afirmando que isso estava causando atrasos em investimentos importantes e iniciativas de crescimento. Além disso, 73% apontaram que as tensões geopolíticas contribuem para a volatilidade/incerteza econômica, enquanto 70% disseram que a imposição de tarifas amplas prejudicará a economia e seus negócios.
As preocupações com ameaças cibernéticas também lideram os rankings de risco, com 69% dos entrevistados classificando-as como risco externo moderado/alto e 61% apontando sua falta de preparo para ataques cibernéticos como risco interno moderado/alto. Em resposta, 42% das empresas familiares estão atualmente reforçando suas defesas de cibersegurança e a governança de dados.
A taxa média de rotatividade das empresas familiares chegou a 20%, com quase 64% relatando dificuldades para atrair e reter talentos. Para enfrentar esse desafio, as empresas familiares estão cada vez mais adotando o modelo de trabalho remoto (76%) e, segundo entrevistas, focando em oferecer programas de remuneração competitivos de curto e longo prazo, oportunidades de progressão na carreira e em promover uma cultura de trabalho positiva e inclusiva.
Empresas familiares adotam diversas táticas de governança, sendo as mais populares: reuniões familiares regulares (43%), criação de um conselho ou comitê familiar (41%) e implementação de diretrizes éticas (41%). Os desafios de governança mais citados atualmente por essas empresas são a incerteza quanto à autoridade nas tomadas de decisão (37%) e o planejamento sucessório para transições de liderança (36%).