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Revolução Digital na Gestão Pública

Aposta em inteligência artificial pode transformar serviços públicos no Brasil

* Por Edson Cedraz

A inteligência artificial (IA) está ganhando protagonismo na transformação da gestão pública em todo o mundo. Com o avanço das tecnologias digitais, governos buscam soluções que tornem os serviços mais rápidos, acessíveis e eficientes. A IA surge como peça-chave nesse processo e já é possível identificar resultados. Segundo a edição 2025 da pesquisa Government Trends”, da Deloitte, a adoção dessa tecnologia no setor público já não é mais uma promessa: trata-se de um movimento em expansão, com impactos concretos na vida dos cidadãos e das empresas.

Em Buenos Aires, o chatbot Boti processou mais de 58 milhões de interações com a população em 2022, oferecendo atendimento 24 horas por dia. Já em Nova Jersey, nos Estados Unidos, o assistente virtual NJ AI Assistant ajudou a reduzir em 35% o tempo de resposta aos cidadãos e elevou em 50% a taxa de resolução de demandas da Receita Estadual. Esses exemplos demonstram como a tecnologia pode aprimorar a eficiência dos serviços públicos e, ao mesmo tempo, fortalecer a confiança da população na interação com as instituições prestadoras.

O Brasil também caminha para incorporar a IA ao funcionamento do Estado. Em maio de 2025, o governo federal criou um grupo interministerial para coordenar a construção do novo Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. A iniciativa envolve órgãos como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Casa Civil, o Ministério da Justiça e outros. A proposta é estruturar uma estratégia abrangente, com foco em inovação, governança, ética e inclusão digital.

Essa articulação está alinhada à visão de futuro apresentada na pesquisa, que aponta a IA como uma ferramenta essencial para escalar a entrega de políticas públicas, tomar decisões com base em dados e personalizar a experiência dos usuários. De acordo com o MCTI, o plano brasileiro de IA deverá acelerar a digitalização do país, promovendo avanços em áreas como saúde, segurança, educação, mobilidade e meio ambiente.

A aplicação da IA em setores sensíveis também já começou a ganhar forma. Um decreto recente regulamentou o uso de sistemas de reconhecimento facial e análise de dados em investigações policiais. O objetivo é aumentar a eficácia das operações, desde que respeitados os princípios da legalidade, proporcionalidade e proteção de direitos fundamentais.

Os países à frente da revolução digital seguem diretrizes claras e estratégicas. Investem na construção de estruturas de governança que asseguram transparência e permitem a auditoria dos algoritmos, capacitam os servidores públicos para atuarem em sintonia com as novas tecnologias e promovem parcerias intersetoriais entre universidades, empresas e entidades da sociedade civil para fomentar a inovação. Além disso, o compromisso com uma digitalização abrangente garante que os benefícios da transformação alcancem todos os segmentos da sociedade, promovendo inclusão e equidade no acesso aos serviços públicos.

A digitalização inclusiva no Brasil também passa por iniciativas como a Infraestrutura Nacional de Dados Abertos e a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais, que oferecem uma base robusta para o desenvolvimento de sistemas inteligentes orientados à melhoria da gestão pública. Além disso, a expansão de serviços digitais impulsionada pela IA pode trazer ganhos diretos para empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, ao simplificar processos, reduzir burocracias e tornar o relacionamento com o Estado mais fluido.

A inteligência artificial, mais do que uma tecnologia promissora, consolida-se como um vetor de transformação. Torna possível criar um Estado mais inteligente, ágil e verdadeiramente centrado no ser humano. O futuro da gestão pública dependerá da combinação entre tecnologia e valores éticos, promovendo transparência, inclusão e equidade. É essencial que políticas de governança robustas, capacitação contínua dos servidores e parcerias intersetoriais sustentem essa jornada, ampliando os benefícios para toda a sociedade. Assim, o Brasil tem nas mãos não só a oportunidade de modernizar seus serviços públicos, mas também de se posicionar como referência global em inovação digital responsável, garantindo que o progresso tecnológico esteja sempre a serviço do bem comum. 

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