Olhamos o agronegócio no País hoje como um copo meio cheio. De um lado, temos a abundância de um setor no qual o Brasil é o maior player mundial, o que nos deixa em uma posição estratégica e, portanto, diante de um futuro com ainda mais oportunidades. Mas, por outro lado, temos um cenário doméstico e internacional cheio de desafios que exigem a implementação de mudanças robustas.
Antes de apresentarmos visões e soluções para lidar com esse panorama desafiador, vamos detalhar um pouco melhor esse copo meio cheio, meio vazio.
O agro brasileiro é hoje um gigante, responsável por 27% de todo o PIB do País, com uma produtividade crescente, que coloca o Brasil na liderança mundial como produtor e exportador de commodities como soja, carne bovina e laranja (veja tabela 1). O Brasil alimenta hoje 10% da população mundial e pode chegar a 40% em 2050. Isso porque as projeções para a produção de grãos, por exemplo, mostram um crescimento de 27% se comparado os períodos de 2020/21 com 2030/31. Também são animadoras as projeções de carne bovina, suína e de frango, bem como etanol de milho e café. (veja tabelas 2, 3 e 4).
Mas é claro que não podemos fechar os olhos para os desafios. Internamente, enfrentamos situações políticas e econômicas que impactam o crescimento do agro. Olhando para fora, temos a guerra na Ucrânia, a volatilidade do câmbio e outros fatores que culminam em um aumento no valor dos insumos – o que nos impulsiona a ter um olhar atento e a pensarmos fora da caixa para aumentar produtividade, o lucro e alavancar a competitividade no mercado internacional.
É aí que entra o chamado Agro 5.0: a mais recente geração de modelos de produção agrícola, que está revolucionando o setor por meio do uso de novas tecnologias, como robótica, biotecnologia, machine learning, inteligência artificial (IA), big data e uso intensivo de dados – todos trabalhando a favor do agro.
Se na agricultura 4.0, as máquinas auxiliavam nas demandas que exigiam esforço físico, na quinta revolução a tecnologia passa a desempenhar o papel de coletar informações por meio de dispositivos IoT (Internet das Coisas) para processamento de dados e fornecimento de análises para tomada de decisão.
Uma das alternativas dessa quinta geração é lançar mão de toda essa tecnologia de ponta e uso massivo de dados para implementar estratégias aduaneiras e tributárias disruptivas na cadeia produtiva do agronegócio, reduzindo o impacto tributário das operações de comércio exterior, gerando redução de custos e aumento de lucratividade.
Mas como navegar por esse intrincado mar de regras dos regimes aduaneiros? Como conectar as cadeias das empresas, da compra dos insumos com os fornecedores até o momento da exportação? Como identificar as oportunidades de desoneração tributária?
Para isso, é necessário trabalhar com uma visão multidisciplinar – com expertise na indústria do agronegócio – que faça um mapeamento completo das oportunidades em cada segmento da cadeia produtiva, produzindo um diagnóstico detalhado, com o auxílio de inteligência artificial, para que sejam apresentadas as melhores práticas para uma desoneração tributária ao longo de todo o processo. Tal modelo já é utilizado pela Deloitte em aliança com a Becomex.
Uma gestão tributária eficiente identifica oportunidades de desoneração em diversos estágios da cadeia produtiva de uma empresa, desde a compra de insumos até o momento da destinação do produto final, passando pela fase da distribuição/exportação e também pelo fluxo de caixa (veja tabela 5). O resultado? A empresa ganha eficiência no custo final, favorecendo a atratividade e a consolidação de uma atividade exportadora mais lucrativa.
A desoneração impulsionada pelo Agro 5.0 ainda tem muito espaço para avançar, visto que o setor aproveita menos de 10% do potencial que possui em termos de regimes especiais aduaneiros, muito devido à dificuldade de identificar possibilidades de redução tributária nas diferentes etapas do processo. Temos também de ressaltar que o desafio da governança de dados neste processo não é um limitador para a implementação desses regimes, já que há soluções disponíveis no mercado para apoiar a estruturação de processos. Para vencer esses entraves e alavancar lucros com o aprimoramento do regime tributário no próximo ciclo do agro, é preciso começar agora. Vamos?