As cidades estão a evoluir para se centrarem no ser humano e serem concebidas por e para os seus cidadãos, promovendo a participação em massa do ecossistema num processo de colaboração e seguindo políticas governamentais abertas.
Como é a minha experiência ideal na minha cidade? Como pode a nossa cidade contribuir para um futuro global mais risonho? Como gostaríamos que os nossos filhos crescessem na cidade? Por que razões gostaria a nossa comunidade de ver a nossa cidade conhecida em todo o mundo?
Estas são algumas das questões que lhe serão colocadas em cidades onde existe um governo aberto e uma participação em massa. São locais onde os cidadãos, os inovadores sociais, as organizações da sociedade civil, as empresas e o mundo académico fazem parte do processo de construção das suas cidades (num modelo de hélicequíntupla1), colmatando as lacunas entre o governo local e o ecossistema.
Como afirmou o Diretor Executivo da UN-Habitat, se quisermos criar cidades sustentáveis e inclusivas, "não podemos desenhar um plano no ar, no décimo sexto andar de um edifício, sem pôr os pés no chão". Através da participação em massa, apoiada por dados e tecnologia abertos, e com o governo local a atuar como plataforma, as cidades podem utilizar o cidadão como "sensor" e beneficiar de uma maior inovação, de uma melhor utilização dos recursos e de um maior sentido de propriedade. A co-criação através da participação em massa é uma abordagem bi ou multi-direcional centrada no ser humano, e não apenas uma abordagem ascendente ou tradicional descendente.
As cidades são cada vez mais inovadoras na forma como promovem a participação, tanto esporadicamente para serviços específicos como regularmente para o planeamento estratégico, uma vez que esta é fundamental para uma democracia saudável. E a tecnologia desempenha um papel fundamental na promoção da inovação - por exemplo, as aplicações móveis e os websites de reporting ultrapassam a necessidade dos grupos se reunirem pessoalmente para discutir novas ideias e colaborar; e a moeda digital abre a porta a estratégias de gamificação (em média, 44% das 167 cidades inquiridas admitiram envolver os seus cidadãos através de alguma forma de gamificação)2 e a sistemas de recompensa por bom comportamento. Por exemplo, é isto que a Câmara Municipal de Freetown, na Serra Leoa, está a fazer, emitindo tokens de impacto para recompensar os cidadãos, as empresas e as instituições que cultivam e sustentam árvores na cidade.
Mas para garantir o cumprimento dos três princípios da administração pública aberta (participação, colaboração e transparência), é necessário dispor de plataformas de dados abertos e de outras iniciativas. Os orçamentos participativos são um bom ponto de partida. Algumas cidades vão mais longe e fornecem aos cidadãos e ao ecossistema acesso à informação em tempo real, para os manter informados sobre as mudanças que afectam o local onde vivem. Por exemplo, o Governo Metropolitano de Seul (Seoul Metropolitan Government - SMG) lançou uma plataforma de cidade inteligente, que afirma ser o primeiro sistema administrativo digital do mundo. Com base na ideia de que "os cidadãos são os presidentes da câmara", a plataforma proporciona aos cidadãos o mesmo acesso em tempo real à informação que o presidente da câmara sobre questões como os transportes, as catástrofes e a qualidade do ar. A plataforma pode ser acedida através do website móvel da SMG e dos quiosques de informação digital nas estações de metro.3 Outros exemplos são "Better Reykjavik" na Islândia, que permite que os cidadãos apresentem as suas ideias sobre quase todas as actividades da cidade, desde horários escolares a novas áreas de mercado e parques; Londres, que criou o London Datastore, um portal de partilha de dados gratuito e aberto, onde qualquer pessoa pode aceder a dados relacionados com acidade4; e a cidade de Lublin, que tem uma iniciativa denominada Orçamento Verde do Cidadão, com um financiamento atribuído de 0,44 milhões de euros para incentivar os residentes a sugerir ideias para melhorar a vegetaçãourbana5.
Em última análise, as cidades progredirão no sentido de disporem de verdadeiras plataformas de colaboração, fomentando a cocriação e conduzindo a novos modelos de governação (cogovernação), em que a responsabilidade é partilhada entre os participantes e não constitui apenas um encargo para o governo local. Nesta perspetiva, é criada uma nova cultura e o envolvimento dos cidadãos surge como fundamental para garantir a sustentabilidade a longo prazo das iniciativas políticas.
"Ao planear as cidades, estamos a planear para as pessoas. Não planeamos as cidades para os carros, não planeamos as cidades para os edifícios, planeamos as cidades para as pessoas".
-Maimunah Mohd Sharif, Directora Executiva da UN-Habitat
"A inclusão tem a ver com ter voz e responsabilidade. Trata-se de os cidadãos participarem na definição do futuro das cidades, identificando os investimentos prioritários ao nível do bairro e da cidade, participando para influenciar a direção que a sua cidade está a tomar. É a capacidade dos cidadãos de fazerem ouvir a sua voz, contribuindo para um melhor planeamento e uma melhor prestação de serviços."
-Sameh Wahba, Diretor Global de Práticas Urbanas, Gestão de Risco de Catástrofes, Resiliência e Terras do Banco Mundial
Pode aceder aos quick links para estas fontes, quando disponíveis, na página 148 do estudo Urban Future with a Purpose.