As cidades estão a evoluir no sentido de disporem de serviços e abordagens inclusivos, combatendo as desigualdades através do acesso à habitação e às infraestruturas, da igualdade de direitos e de participação, bem como de empregos e oportunidades.
"No final do dia, se tiver uma cidade habitável, sustentável, resiliente e competitiva, mas que não é inclusiva, então algo está fundamentalmente errado nessa cidade", afirma Sameh Wahba do Banco Mundial numa entrevista para este estudo. É agora mais importante do que nunca sublinhar a importância da inclusão social nas cidades, celebrando e apoiando o coração do ecossistema da comunidade - as suas pessoas.
As cidades não são apenas centros de desenvolvimento económico; são a confluência da igualdade, da convivência comunitária saudável e da prosperidade para todos. O espaço público é utilizado de forma diferente pelos residentes e essas diferenças devem ser tidas em conta no planeamento de uma cidade. A inclusão social deve ser um pilar fundamental do crescimento urbano e do desenvolvimento das cidades do futuro, tendo em conta os três pilares identificados pelo Banco Mundial: inclusão espacial (disponibilização de habitação a preços acessíveis, água e saneamento), inclusão social (igualdade de direitos e participação) e inclusão económica (criação de emprego e oferta aos cidadãos de oportunidades de desenvolvimento económico).
As cidades devem ser planeadas e concebidas para gerar resultados sociais e económicos para todos, evitando os custos que ocorrem quando as pessoas são excluídas. Embora os pobres sejam normalmente os mais afectados, as cidades também eliminarão as barreiras causadas por diferenças de género, idade, raça, nacionalidade, deficiência ou religião. A conceção inclusiva pode significar a construção de centros urbanos inclusivos em termos de género, a fim de proporcionar espaços seguros e protegidos para os prestadores de cuidados e a instalação de elementos acessíveis a cadeiras de rodas para as pessoas com dificuldades de mobilidade. A conceção inclusiva pode significar a construção de bairros mais ecológicos e seguros para todos os cidadãos e o investimento na criação de espaços seguros e alegres para as crianças brincarem e de locais acessíveis para os idosos, tornando as cidades agradáveis para a geração mais recente. Um sistema de assistência social inclusivo acolherá os migrantes e oferecer-lhes-á serviços adaptados às suas necessidades específicas, ao seu contexto e às suas oportunidades, como qualquer outra pessoa. Uma cidade inclusiva combate a gentrificação. Estas iniciativas de inclusão, entre muitas outras, são apoiadas por um dos critérios dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: "Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços verdes e públicos seguros, inclusivos e acessíveis, em especial para mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência".
Já existem alguns sinais de que as cidades estão a dar prioridade à inclusão. Um inquérito realizado a 167 cidades de todo o mundo revelou que 40 a 47% das cidades utilizam métricas para acompanhar os progressos no sentido dos objectivos de inclusão, apesar de a maioria se situar em economias avançadas. A mesma fonte indica que 80 por cento das Cidades 4.0 (as que estão na vanguarda das iniciativas de cidades inteligentes, têm infra-estruturas superiores e fizeram grandes progressos no sentido dos ODS) asseguram o envolvimento dos desfavorecidos, enquanto apenas 45 por cento das outras o consideram uma preocupação, o que mostra as discrepâncias entre as cidades neste aspetoespecífico1.
Tanto a tecnologia como a participação em massa são necessárias para acelerar a tendência para a inclusão social. A digitalização permite que os governos facilitem o acesso a uma série de serviços, acelerem as oportunidades de negócio, analisem as lacunas sociais, eduquem as audiências em massa, recolham dados em tempo real, impulsionem a tomada de decisões com base em dados, facilitem a governação preditiva e pró-ativa e envolvam audiências mais vastas na atividade social. Além disso, liberta a capacidade do governo para redirecionar recursos administrativos e de gestão de processos limitados para aqueles que mais precisam.
Embora seja um requisito fundamental para a inclusão social, a tecnologia também pode criar disparidades. Atualmente, metade da população mundial está offline, o que reforça "a necessidade de encarar a conetividade e a comunicação como um bem público", como afirmou o Diretor Executivo da UN-Habitat. Nalgumas regiões, a falta de acessibilidade económica das soluções tecnológicas e o fosso digital social foram identificados como obstáculos ao progresso. Os planeadores urbanos devem estar conscientes do grande número de cidadãos "digitalmente invisíveis", para evitar distorcer os resultados da análise das cidades, comprometer os esforços de planeamento urbano e até contribuir para um aumento do fosso da desigualdade. Soluções, como telemóveis ou acesso à Internet financiados pelo governo, ou centros comunitários, podem potencialmente atenuar os efeitos adversos da tecnologia.
Para além da tecnologia, a participação em massa é um segundo catalisador da inclusão social. Tradicionalmente, as cidades têm sido planeadas por arquitectos do sexo masculino provenientes de meios formais. Trazer a diversidade para o processo de criação é uma medida fundamental para evitar desigualdades e criar cidades inclusivas e centradas na equidade by design.
Temos de compreender que a inclusão e a equidade não são simplesmente "boas de ter": são essenciais. É uma base sobre a qual se constrói e é um facilitador de comunidades prósperas. Uma comunidade próspera é boa para a economia, para a cultura e para a arte, para a criatividade e para a inovação."
-Jeff Merritt, Head of IoT and Urban Transformation at the World Economic Forum
"A tecnologia pode desempenhar um papel importante na luta contra a exclusão: reforçando os sistemas de administração terrestre e as infra-estruturas geoespaciais, assegurando assim a proteção dos direitos da terra, especialmente para os agregados familiares pobres e mais vulneráveis; promovendo a participação dos cidadãos na elaboração de políticas urbanas - o que é fundamental; e permitindo que as pessoas tenham acesso a empregos e que as competências correspondam às necessidades do mercado de trabalho."
-Sameh Wahba, Global Director of Urban, Disaster Risk Management, Resilience and Land Global Practice at the World Bank
Pode aceder às ligações para estas fontes, quando disponíveis, na página 148 do estudo Urban Future with a Purpose.