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‘PPMOF’: a resposta para o problema de produtividade da indústria de construção?

Processos mais eficientes para o setor de capital intensivo

Por Clarisse Gomes, diretora de Capital Projects & Asset Transformation; Eduardo Raffaini, líder da prática Capital Projects & Asset Transformation; Mauricio Nichterwitz, diretor de Capital Projects & Asset Transformation

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Projetos de Capital são desafiadores. Além de ter de lidar com cronogramas exigentes, condições adversas e falta de mão de obra qualificada, o setor ainda enfrenta um problema crônico de baixa produtividade. Com os níveis de desperdício de tempo, materiais e recursos em alta, as organizações do setor de capital intensivo se vêem cada vez mais pressionadas a implementarem processos mais eficientes que agreguem valor e aumentem a segurança, qualidade e desempenho de seus projetos de capital.

Quais são os métodos mais eficazes para não só sanar esse cenário problemático, mas também impulsionar a competitividade e lucratividade do setor? A resposta pode estar no uso de métodos PPMOF (Pré-fabricação, Pré-montagem, Modularização e Fabricação Offsite, em tradução livre da sigla em inglês).

PPMOF são métodos de construção que oferecem a oportunidade de melhorar o desempenho de projetos de capital. O mercado global de construção pré-fabricada e modular está aquecido e é avaliado em US$ 129 bilhões, com previsão de crescimento de 7,1% até 2026, segundo o Global Market Insights. Antes de nos aprofundarmos no tema, porém, é preciso esclarecer o significado da sigla:

  •  Pré-fabricação (P): um processo de fabricação, geralmente realizado em uma instalação especializada, no qual diferentes materiais são unidos para formar uma parte integrante de uma instalação final; uma prática comum na maioria dos projetos industriais hoje;
  • Pré-montagem (P): um processo pelo qual vários materiais, componentes pré-fabricados e/ou equipamentos são conectados em um local remoto para depois serem instalados como uma subunidade; geralmente é focado em um sistema; também é uma prática comum na maioria dos projetos industriais hoje;
  • Modularização (M): uma seção principal de uma planta resultante de uma série de operações de montagem remota que pode incluir diversas partes de muitos sistemas; geralmente a maior unidade transportável ou componente de uma instalação;
  • Fabricação Offsite (OF): uma prática de pré-montagem ou fabricação de componentes tanto fora do local quanto no local em uma localização diferente do ponto final de instalação.

Os fatores que motivam o uso de técnicas PPMOF estão diretamente relacionados aos benefícios obtidos pela prática, muitas vezes sendo determinantes no processo de decisão para sua aplicação ou não. Uma das principais vantagens é a redução de custos nos projetos, que podem representar uma economia de até 10% nos gastos gerais e de 25% nos custos com a mão de obra, segundo um estudo do Construction Industry Institute (CII). Outros ganhos da aplicação de práticas PPMOF incluem a compressão de cronogramas mesmo com uma mão de obra reduzida no local da obra — um levantamento do CII estima uma redução de 40% a 50% de trabalhadores. Embora os métodos PPMOF ofereçam essas oportunidades, um dos motivadores mais atraentes é a redução de riscos, além de um aumento significativo nos níveis de segurança e qualidade no produto final.

Os benefícios oferecidos pelo uso dessa metodologia são de grande importância quando consideramos o contexto do mercado. Cada vez mais, stakeholders querem projetos melhores, mais seguros, a um custo menor e com tempo de entrega reduzido — exigências que podem ser cumpridas através da utilização de métodos PPMOF. Além dos benefícios econômicos, é importante ressaltar os ganhos em sustentabilidade, qualidade e segurança que a prática traz aos projetos, ao reduzir desperdícios, controlar melhor a produção e otimizar a cadeia de produção.

Temos observado, cada vez mais, uma tendência em ter os processos de construção realizados fora dos canteiros de obras, em uma área de montagem, para aumentar a agilidade e produtividade em projetos de construção — um relatório do CII indicou que o uso de técnicas de pré-montagem e modularização quase dobrou desde meados da década de 1980.

Benefícios da abordagem PPMOF

 

O uso do método tem trazido resultados positivos para diversas indústrias. Por exemplo, o setor de petróleo e gás já utiliza a técnica para otimizar projetos complexos e de alto risco. A padronização de processos construtivos já contribuiu para uma economia de 50% em custos e horas de trabalho, de acordo com estimativas do CII. A prática também contribuiu para a transformação do setor de construção naval, que observou reduções dramáticas nos custos e nos tempos de ciclo de construção, após implementar métodos de modularização, possibilitando a entrega de produtos com maior rapidez e menor custo, mantendo os padrões de qualidade e segurança.

A transformação digital de negócios e a chegada de novas tecnologias também estão movimentando o setor, viabilizando e popularizando os métodos PPMOF, visto que algumas soluções ajudam a eliminar barreiras que impediam sua adoção generalizada. Fotografias digitais, câmeras de vídeo e uso de software especializado facilitaram o trabalho em instalações remotas — com o 3D CAD, por exemplo, é possível visualizar o produto final, suas instalações operacionais e ter uma ideia mais concreta de como o PPMOF pode contribuir para o sucesso do projeto. O crescente número de construtechs também é um indicativo deste cenário. Um estudo da Terracotta Ventures identificou que 77 startups de construção modular receberam investimentos de venture capital desde 2010 no mundo — no total, foram 130 rodadas que movimentaram mais de US$ 2,29 bilhões. A tendência também já pode ser observada no mercado brasileiro: segundo o mesmo levantamento, o Brasil conta com mais de 50 startups de construção modular que estão explorando a criação de soluções mais ágeis e econômicas para o setor. No entanto, prosperar no setor não é uma tarefa fácil, o alto capital necessário e o nível de especialização requerido são barreiras importantes de entrada e dificultam o desenvolvimento destas novas empresas. Um exemplo é a startup Katerra — fundada em 2015 e considerada um unicórnio do setor pelo seu valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, a empresa encerrou suas atividades este ano depois de levantar cerca de US$ 2 bilhões.

Embora os fatores que motivam o uso do PPMOF sejam claros, a decisão por sua implementação deve considerar o equilíbrio entre os benefícios, riscos e barreiras de execução potenciais. Entre os principais elementos a serem considerados estão requisitos de engenharia, transporte e menor flexibilidade de mudança. Outras barreiras incluem restrições do local da obra, requisitos organizacionais, de coordenação e de comunicação.

Cuidados para a adoção do PPMOF

 

De acordo com Michael Kluck, gerente sênior de projetos na KBR, empresa que entrega soluções de ciência, tecnologia e engenharia para governos e empresas em todo o mundo, a realização de testes de qualidade e de planos logísticos é imprescindível para qualquer projeto que use técnicas PPMOF. Assim, a decisão de aplicar esses métodos deve ser tomada antes mesmo de sua fase de planejamento ser iniciada. Segundo ele, o ideal é começar a pensar nisso quando a ideia é apenas um “brilho nos olhos” do proprietário e temos apenas uma vaga visão do que pode ser possível. “Infelizmente, muitas vezes, isso só é feito quando já é tarde demais”, disse o especialista em conversa com a Deloitte.

“Quando falamos em modularização e pré-montagem é preciso considerar que como tudo é construído fora do local da obra, em um pátio de fábrica, por exemplo, a engenharia desse pátio deve ser concluída muito mais cedo para permitir o tempo hábil de conclusão dos módulos. Isso significa que tudo que é modular deve ser projetado com antecedência e que a aquisição e a entrega devem ocorrer mais cedo.” - Michael Kluck

O uso de métodos PPMOF requer uma consideração cuidadosa de suas implicações em todos os níveis do projeto e traz resultados melhores quando implementados de maneira holística e em fases iniciais do investimento. Muitos dos ganhos do método são capturados de forma indireta, através da antecipação de cronogramas, por exemplo, ou da redução de riscos, como custos evitados em segurança.

O avanço da prática na construção brasileira, civil ou industrial, ainda enfrenta alguns desafios pelo caminho, como questões de logística e de mão de obra qualificada. Entre as principais barreiras a superar, no entanto, estão a cultura de trabalho em canteiros de obras, o desconhecimento dos profissionais e a resistência de players tradicionais em implementar novas práticas e tecnologias.

É preciso um esforço de conscientização que deixe claro as complexidades de transformar processos na construção. Para surtir efeito, as mudanças não podem ocorrer de maneira isolada — é necessário um empenho coletivo do setor como um todo.

Análises de custo, mão de obra e cronograma

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