Ações de inclusão e diversidade ganham cada vez mais relevância no ambiente corporativo, inclusive, por seu impacto como parte da agenda ESG. Prova disso é que a falta de engajamento das organizações pode refletir no desinteresse por seus postos de trabalho. Segundo o estudo “LGBT+ Inclusion @ Work Survey”, realizado pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, no Brasil, quatro em cada dez dos profissionais LGBTQIAPN+ desejam sair do atual emprego em busca de companhias que sejam mais inclusivas. Em termos de diversidade e inclusão, os principais fatores que os brasileiros ouvidos pela pesquisa consideram importantes ao procurar por uma nova posição são: a oportunidade de participar das iniciativas de inclusão (86%) e o compromisso interno da empresa com a com a causa (85%).
A importância desses dois fatores é a mesma quando a idade dos entrevistados é segmentada. As oportunidades de participar das iniciativas de inclusão são essenciais para a Geração Z, que nasceram entre 1997 e 2010, (70%) e para Milennials, entre 1980 e 1996 (75%). Já o compromisso interno das organizações é fundamental para 70% da Geração Z e 78% dos Milennials. Conforme a idade aumenta, o olhar muda. De quem faz parte da Geração X, os nascidos entre 1960 e 1979, 91% acreditam que a demonstração externa de compromisso com a inclusão LGBT+ é mais importante que qualquer outra atitude. No total, 38% dos profissionais brasileiros afirmam que seus empregadores demonstram compromisso com a inclusão, tanto internamente quanto externamente. O índice é maior que a média global (35%) e evidencia como as organizações ainda podem ampliar esse debate e contribuir para uma sociedade mais diversa e equitativa. O mesmo percentual (38%) diz que a atual empresa não demostra nenhum comprometimento.
“A realidade é um pouco pior para os entrevistados LGBT+ de minorias étnicas, com mais da metade atualmente procurando uma nova função. Quando se trata de escolher seu novo empregador, o que mais importa é ver uma força de trabalho diversificada e o mais interseccional. As organizações precisam priorizar a diversidade, equidade e inclusão em sua agenda estratégica. Criar um ambiente acolhedor e inclusivo é cada vez mais urgente e benéfico para as empresas e sociedade, é importante considerar todos as dimensões do ecossistema. Não há como construir essa jornada de inclusão sem o apoio legitimo dos gestores. Treinamentos de liderança inclusiva que destacam pontos como quebra de vieses, a importância do ambiente colaborativo e curiosidade a favor da empatia são fatores que propiciam um ambiente diversificado e inclusivo na essência.”, afirma Angela Castro, sócia e líder da estratégia de diversidade ALL IN da Deloitte.
Assumir para qualquer pessoa a orientação sexual no ambiente de trabalho não é visto como problema por quase metade dos entrevistados (47%). Outra parcela (39%) se sente à vontade para falar apenas com algumas pessoas com quem trabalha. Já 12% não se sentem à vontade de forma alguma a assumir a orientação sexual no ambiente de trabalho, abaixo da média global, de 14%. A pesquisa mostra que esse comportamento pode ter relação com a idade dos entrevistados. No Brasil, assim como no resto do mundo, os profissionais LGBTQIAPN+ mais sêniores têm maior probabilidade (48%) de assumirem sua orientação sexual para qualquer pessoa no trabalho. Já entre profissionais mais juniores, a maior parcela se sente confortável em assumir sua orientação apenas para algumas pessoas (44% contra a média global de 34%). Ter um aliado na luta pela igualdade é um fator importante para assumir a orientação sexual (78%) e a identidade de gênero (84%) no ambiente corporativo.
Os brasileiros seguem a mesma tendência do resto do mundo ao se sentirem mais confortáveis em revelar sua orientação sexual para colegas próximos (64% no Brasil e 59% global), seguidos por gerentes diretos (35% no Brasil e 37% global). Ao tratar com clientes/consumidores, 21% dos entrevistados brasileiros se sentem desconfortáveis a se assumirem. Já no estudo global, esse índice chega a 18%.
Quando questionados sobre o que os impede de se sentirem confortáveis ao assumirem a identidade de gênero e a orientação sexual no ambiente de trabalho, mais de 44% citam preocupações com o tratamento diferenciado e 42% mencionam medo de ter um tratamento desrespeitoso. Discriminação ou assédio (41% Brasil e 32% global) também figuram entre as principais barreiras. Um terço dos funcionários afirma que preocupações com sua segurança pessoal são um impedimento para se assumirem, em contraste com menos de 20% dos respondentes globalmente. Um quarto dos entrevistados teme que, ao se assumir, isso afete as oportunidades de carreira.
“As organizações têm o grande desafio de transformar o espaço de trabalho em um ambiente acolhedor, que enxerga as diferenças de cada profissional e zela pelo respeito ao colaborador. Além de ser uma questão de humanidade, é uma forma de melhorar os relacionamentos e a produtividade da empresa. Afinal, os funcionários que se sentem acolhidos e valorizados trabalham melhor”, conclui Rafael Ferrari, sócio e líder do pilar LGBT+ da Deloitte.
Mais da metade dos brasileiros LGBT+ já vivenciaram comportamentos não inclusivos no trabalho
De acordo com os dados, 57% dos profissionais já vivenciaram comportamentos não inclusivos. Quatro em cada dez dos que vivenciaram comportamentos não inclusivos têm certeza de que sua orientação sexual (41%) ou identidade de gênero (36%) foi o motivo.
As microagressões são a forma mais comum de comportamentos não inclusivos no Brasil (96%), mas o assédio (56%) também toma forma no dia a dia dos profissionais entrevistados. As atitudes mais comuns são comentários ou piadas indesejadas de natureza sexual (45%) e comentários depreciativos ou desdenhosos sobre a identidade de gênero ou orientação sexual (29%). A pesquisa revela que aqueles que vivenciaram comportamentos não inclusivos têm maior probabilidade de relatar a seus gerentes diretos (48%), seguido pelo setor de Recursos Humanos (42% dos brasileiros).
No entanto, 58% não relataram essas práticas ofensivas, principalmente porque temiam que a situação piorasse (44%). Cerca de um terço dos respondentes, tanto no Brasil quanto globalmente, estava preocupado com o impacto negativo em sua carreira ou não acreditava que sua reclamação seria levada a sério. Após o relato, o levantamento identificou que a ação mais comum por aqui é oferecer suporte ou aconselhamento à pessoa afetada (38%).
Metodologia
A pesquisa “LGBT+ Inclusion @ Work Survey” contou com 5.474 profissionais LGBTQIAPN+ e foi realizada entre janeiro e fevereiro de 2023, por meio de entrevistas quantitativas on-line e discussões qualitativas individuais aprofundadas. Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Índia, Japão, México, Países Baixos, Polônia, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos foram os países pesquisados.
No Brasil, participaram 416 pessoas, sendo 86% da Geração Z ou Millennials e 15% com idade acima de 40 anos. Ao todo, 80% são trabalhadores em tempo integral. Um em cada 10 respondentes se identifica como transgênero, enquanto 6% se identificam como não-binários/gênero queer. Quase seis em cada 10 respondentes se identificam como bissexuais, 20% como gays e 14% como lésbicas.
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