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Disrupção tecnológica chega à área financeira e CFOs devem estar preparados para liderar essa transformação

Por Paulo de Tarso, sócio-líder do CFO Program da Deloitte

A busca pela adoção de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial Generativa (GenAI) e o Enterprise Resource Planning (ERP), que permitam ganhos de eficiência e vantagens competitivas, tem crescido em todos os departamentos corporativos. Na área financeira, essas tecnologias deverão promover a automação de processos e análise avançada de dados, redefinindo a forma como as decisões são tomadas e exigindo dos CFOs uma atuação mais estratégica e integrada ao negócio.

A pesquisa “CFO Survey 2025”, realizada pela Deloitte com 105 CFOs de empresas que operam no Brasil, mostra que GenAI desponta como uma tendência para a área financeira, com 74% dos respondentes afirmando que pretendem adotá-la e 15% destacando que já a utilizam. O levantamento também analisa a distribuição de tempo dos CFOs, identificando que 68% dos líderes entrevistados já exercem atividades relacionadas à incorporação de tecnologias, como IA e Analytics, para obter insights estratégicos.

Outro estudo recente da Deloitte, o “CFGO Tech Trends”, identificou tendências tecnológicas que impactarão os negócios nos próximos dois anos, com potencial de gerar valor significativo, alavancar produtividade, reduzir custos e abrir novos caminhos para crescimento e ganho de competitividade. Esse relatório reforçou aspectos de como os CFOs devem se preparar, avaliar e estabelecer parcerias estratégicas para investir em GenAI.

Uma das tendências é a evolução dos modelos de linguagem. Muitos negócios já adotaram modelos de linguagem de grande escala (LLMs), mas os Modelos de Linguagem Pequenos (SLMs) e códigos abertos despontam como opções mais estratégicas para alguns negócios.

Isso porque o futuro da IA será marcado por uma especialização maior na escolha de modelos para tarefas específicas, tendo em vista que essa tecnologia não só responderá a perguntas como executará ações de forma autônoma.

CFOs precisam tomar decisões estratégicas sobre quais investimentos em IA podem gerar o maior valor, considerando aspectos como custo, funcionalidade e riscos associados. A transição para modelos com agentes autônomos de IA pode automatizar inclusive atividades de otimização de capital de giro ou a previsão de cenários financeiros. Trata-se de caminho promissor para a área de finanças.

Core technologies (ou tecnologias centrais), como o ERP, também serão
complementadas por capacidades de IA, o que cria um núcleo inteligente capaz de aprender e se aprimorar continuamente. Nesse cenário, o cotidiano dos CFOs será transformado por sistemas que mudam a forma de como as informações são acessadas, já que elas serão oferecidas, em tempo real, com relatórios e atualizações apresentados de forma clara, objetiva e compreensível. No entanto, o trabalho de minimização de riscos para implementação será crítico no contexto da área financeira, o que torna indispensável modelos de governança robustos que garantam a proteção de dados.

A computação espacial, por sua vez, se destaca como tendência que promete transformar a maneira como as empresas interagem com dados e tomam decisões. Esse conceito inclui o uso de simulações avançadas e gêmeos digitais, que permitem testar cenários e visualizar operações de forma mais tangível e interativa. Imagine um CFO podendo ver como diferentes decisões de investimentos afetariam tanto a operação quanto o fluxo de caixa de uma empresa. A utilização de gêmeos digitais possibilitará um planejamento de capital mais eficiente e uma visão detalhada das interações entre os dados financeiros e operacionais.

No entanto, a computação espacial e outras tecnologias emergentes também trazem o desafio de como lidar com a enorme quantidade de dados gerados.

Organizações precisarão investir não apenas em software avançado, mas também em infraestruturas físicas capazes de suportar as demandas de processamento. Nesse contexto, o papel do hardware tem retornado aos holofotes.

A crescente demanda por chips especializados pode tornar a implementação de soluções baseadas em IA mais cara, mas abre caminho para dispositivos mais inteligentes e autônomos. A integração desses componentes no ecossistema corporativo exigirá planejamento de capital e uma gestão eficiente dos recursos. CFOs que compreenderem as tendências no uso de hardware estarão mais bem posicionados para tomar decisões estratégicas sobre como alocar investimentos e otimizar a estrutura de custos.

A evolução da tecnologia também tem provocado uma reconfiguração da função da TI dentro das empresas, que precisa ser um motor de inovação, capaz de integrar novas soluções tecnológicas de forma eficiente e contínua.

Assim, deverá haver uma colaboração estreita entre os CFOs e os líderes de TI para garantir que os investimentos estejam alinhados com as necessidades do negócio e que as soluções escolhidas tragam o retorno desejado.

A atuação proativa da área financeira, em parceria com TI, será fundamental ainda para proteger dados sensíveis e manter a resiliência diante das novas ameaças digitais. A evolução dos computadores quânticos, prevista para os próximos anos, é um risco para a cibersegurança, especialmente por sua capacidade de quebrar os métodos atuais de criptografia e assinaturas digitais.

A possibilidade de criminosos cibernéticos capturarem dados hoje para decifrá-los no futuro exige que as organizações avaliem desde já custos e riscos, atualizem as práticas de criptografia e revejam os controles, padrões e processos de teste. 

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