A captura de carbono é amplamente reconhecida como essencial para qualquer rota viável em direção à redução das emissões globais de gases de efeito estufa. Com o intuito de abordar uma necessidade crítica que requer inovação e investimento, essa abordagem tem sido empregada há bastante tempo para descarbonizar operações de petróleo e gás em determinadas regiões. Geralmente, é considerada uma das opções mais plausíveis a curto prazo para a descarbonização de setores como fabricação de aço, produtos químicos e cimento. Além disso, há a possibilidade de remover emissões excessivas diretamente da atmosfera. No entanto, apesar do aumento dos investimentos, ampliação dos incentivos governamentais e da contínua inovação, a maioria das tecnologias de captura de carbono ainda está em estágio inicial e é muito custosa.
Segundo uma análise realizada pela Deloitte para a GreenSpace Tech, apenas duas das 12 categorias de tecnologia de captura de carbono, consideradas as mais maduras, chegaram a um estágio comercial de desenvolvimento para qualquer aplicação: absorção química e absorção/adsorção física. Diante disso, a capacidade de captura de carbono fica abaixo do necessário para atingir o ”Net Zero”. Atualmente, apenas 35 projetos estão em operação comercial em todo o mundo, capturando cerca de 45 megatoneladas anualmente, principalmente do processamento de gás natural e produção de amônia. A análise ressalta que os custos podem ser muito mais altos para aplicações menos maduras, como aço, cimento, bioenergia e, principalmente, captura direta do ar, que pode chegar a centenas de dólares por tonelada capturada. Essas aplicações são mais desafiadoras tecnicamente, pois envolvem correntes de gás com concentrações de CO2 relativamente baixas. Elas também têm custos de capital mais elevados.
Enquanto isso, pesquisadores seguem estabelecendo o objetivo de reduzir globalmente mais de sete gigatoneladas de emissões por ano até 2050, por meio desta iniciativa. Os governos têm ampliado os incentivos para o desenvolvimento de projetos, enquanto os investidores têm apoiado startups e impulsionado cada vez mais esta causa. A grande expansão do crédito tributário para captura, utilização e armazenamento de carbono nos Estados Unidos com base na Lei de Redução da Inflação vem estimulando novas propostas. Na União Europeia, Canadá, Austrália e Coreia do Sul também foram introduzidos, ou propostos, novos financiamentos para pesquisa e projetos tecnológicos. Em 2022, foi registrado um recorde de financiamento de capital de risco, mais de 60 empresas levantaram mais de US$ 1,5 bilhão.
Desenvolvedores anunciaram planos para construir 200 novos projetos até 2030, quando a capacidade global deverá ultrapassar 200 megatoneladas. Contudo, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), esse número está aquém da 1,6 gigatonelada necessária até este ano, e muito abaixo das 7,6 gigatoneladas necessárias até 2050 para alcançar o ”net zero”. Mais investimentos são necessários para expandir a capacidade global com novos projetos e desenvolver novas tecnologias economicamente mais viáveis.
A inovação segue como o caminho para enfrentar os desafios de custo. Tecnologias de captura, como separação por membrana, looping de cálcio e adsorção eletroswing - processo que envolve a captura de substâncias químicas, como gases ou íons, pela superfície de um material sólido - podem ajudar, potencialmente reduzindo os custos em mais de 50% para algumas aplicações. Porém, elas ainda permanecem em grande parte não comprovadas além do estágio de protótipo. A modelagem da AIE sugere que 55% da redução global de emissões de carbono até 2050 terão de vir de ferramentas que atualmente se encontram no estágio de demonstração ou protótipo.
O montante global investido em captura de carbono - abrangendo financiamento de capital de risco e investimentos dos setores público e privado em novos projetos - alcançou US$ 3 bilhões do primeiro ao terceiro trimestre de 2022. Apesar disso, conforme indicado pela AIE, para atingir o objetivo de carbono neutro até 2050, os investimentos de capital anuais precisarão ser aumentados para US$ 160 bilhões. Alguns ambientalistas também são contrários ao investimento em captura de carbono, especialmente nos setores de petróleo, gás e energia, onde as energias renováveis oferecem uma alternativa mais consolidada para a descarbonização. Isso pode dificultar a obtenção de apoio político e financeiro.
É um fato que outras indústrias, como as de aço e cimento, não podem ser descarbonizadas apenas com eletricidade de fontes renováveis, devido aos altos requisitos de calor e às emissões de processo. Diante dessa realidade, os líderes nos setores público e privado precisarão direcionar recursos financeiros e oferecer apoio adequado para o desenvolvimento da captura de carbono nessas áreas, independentemente da velocidade com que a energia renovável seja expandida.
Grande parte da atividade e do progresso em torno da captura de carbono até o momento tem vindo dos setores de petróleo, gás e energia. Empresas nos setores de energia, produtos químicos e industriais podem ser capazes de reduzir significativamente os altos custos, diminuindo os requisitos de investimento de capital em 20% a 95%, ao desenvolver hubs locais e regionais com instalações compartilhadas de captura de carbono e infraestrutura. Além disso, empresas de petróleo e gás e produtos químicos que têm utilizado a captura de carbono há anos podem expandir seus esforços incipientes para comercializar suas tecnologias nesse campo.
É evidente que a tecnologia de captura de carbono precisará ser expandida e aprimorada em novos setores, como aço e cimento, a fim de alcançar o objetivo de ”net zero”, o que cria oportunidades para fornecedores de soluções adaptadas às necessidades dessas indústrias. É importante ressaltar que essa expansão só será viável por meio do esforço global, uma tarefa que, sem dúvida, representa um desafio massivo, mas que oferece uma série de oportunidades para as organizações.