Por Marcio Panassol, sócio de Consultoria Tributária em Supply Chain & Procurement da Deloitte, e Carolina Cabral, CEO da Nimbi
Empresas que querem potencializar suas jornadas de transformação digital e garantir a liderança em seus setores de atuação precisam se certificar de que todas as suas áreas de negócio acompanhem os avanços e inovações do mercado – incluindo a de Compras.
É fundamental criar estratégias para auxiliar os profissionais que atuam nesse setor a fazerem a transição para um modelo de operação disruptivo, no qual o departamento de Compras deixa de ser visto como um centro de custo para se tornar um centro de lucro na organização.
E esse é justamente o primeiro passo para dar início ou para acelerar essa jornada rumo ao novo modelo. Mudar a maneira como o departamento atua é importantíssimo. É preciso adotar medidas para que ideias obsoletas sobre essa área fiquem no passado e superar a época em que o setor era visto como burocrático, apenas impondo empecilhos para compras simples.
Mudar essa percepção passa pela evolução dos profissionais que ocupam essa função, de “compradores” para “profissionais de compras”. Assim, eles assumem uma posição muito mais estratégica na empresa, não mais se preocupando em fazer apenas cotações e tarefas semelhantes. Nesse novo patamar, esses profissionais olham a operação como um todo e negociam as categorias mais relevantes para a organização, avaliando o quanto determinada compra impacta no negócio, a qualidade do produto ou serviço, se o mais importante naquele momento é preço ou prazo, etc.
Além disso, o profissional de compras desempenha um papel muito importante no que diz respeito à Reforma Tributária. Isso porque, a partir de 2026, passaremos por seis longos anos de transição, no qual haverá um período de coexistência de sete impostos: os cinco atuais que serão gradativamente extintos (PIS, COFINS, IPI, ICMS e ISS) e os dois novos que os substituirão (CBS, Contribuição sobre Bens e Serviços, e o IBS, Imposto sobre Bens e Serviços). Essa mudança deve criar um grande número de pendências para as empresas que não se prepararem adequadamente, já que o valor de notas fiscais emitidas pelos fornecedores pode embutir os novos tributos, gerando um valor diferente do que havia no pedido de compras. Discrepâncias assim justificam uma modernização do setor de Compras, já que uma área melhor preparada pode mitigar – e muito! – esse tipo de problema de fluxo de pagamentos.
Profissionais de compras com treinamento e posicionamento estratégicos também estarão aptos a lidar com outros desdobramentos que virão com a Reforma, como o impacto que ele terá nos preços negociados. Isso porque a mudança também afeta a obtenção de créditos tributários, o que, por sua vez, pode alterar o custo total de um produto ou serviço. Assim, a área precisa renegociar suas condições comerciais com os fornecedores – uma tarefa bastante importante do ponto de vista estratégico.
Agora que já salientamos o quão estratégico é ter um time de Compras evoluindo juntamente com as novas demandas do mercado e detalhamos a importância de reposicionar esses profissionais, resta a questão de como acelerar essa jornada. A resposta é precisa: formação e tecnologia – investindo na capacitação dos profissionais, que será impulsionada por ferramentas tecnológicas.
É muito comum vermos empresas com profissionais da área de compras com uma experiência extensa, tendo passado por todo o tipo de negociação, porém com acesso e conhecimento restritos quando falamos em ferramentas de tecnologia. E, como é de se imaginar, são inúmeros os usos de soluções digitais que os especialistas do setor podem usar para automatizar funções, aprimorar processos e alavancar a produtividade.
Para a implementação dessas soluções, a Deloitte tem atuado em conjunto com a Nimbi – empresa de tecnologia focada na área de Compras. Um dos focos da empresa é implementar uma jornada única para a gestão de compras. Em vez de os profissionais usarem, por exemplo, cinco plataformas diferentes para tarefas como solicitações, negociações, homologação, workflow de aprovação e gestão de contratos, a empresa passa a usar uma plataforma unificada, centralizando todas as etapas em um único ambiente, otimizando o trabalho.
Implementar esse tipo de tecnologia não apenas gera mais produtividade, mas também facilita os processos de compliance, de governança e de sustentabilidade como um todo. Além disso, soluções de tecnologia que consolidam informações em uma única plataforma também são uma etapa essencial para a adoção de ferramentas de inteligência artificial, cada vez mais utilizadas.
Essa atuação em conjunto entre Deloitte com a Nimbi é bastante estratégica já que, antes da implementação de novas tecnologias, é preciso pavimentar o caminho para que esse processo seja eficiente. É aí que entra o time de especialistas da Deloitte, analisando o perfil da empresa, as principais lacunas e demandas da área, os processos que podem ser automatizados e as melhores alternativas para alavancar o potencial desses profissionais de compras, além de assumir a operação de atividades táticas e operacionais.
Essa forma de atuar permite que, por meio das expertises específicas de cada empresa, sejam desenvolvidos projetos corporativos que, a partir do investimento na área de Compras, vão muito além de melhores negociações. São projetos que promovem crescimento sustentável de longo prazo – com menos custos, mais eficiência e acompanhando a transformação digital.
Por isso, é preciso que diferentes líderes estejam atentos a esse momento crucial de mudanças que o setor de Compras precisa enfrentar, sejam eles executivos de Compras, CPOs (Chief Procurement Officers), diretores financeiros e também líderes de áreas como ESG e Compliance. Afinal, é crucial que haja sintonia entre as áreas da organização, conectando processos, pessoas, tecnologias e governança, para que a valorização dessa área decole, gerando mais receita e mais sustentabilidade.