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O pós-IPO é peça fundamental na jornada da abertura de capital

Carlos Zanotta
Felipe Minelli

Diante das incertezas se teremos ou não uma nova janela de IPO (Oferta Inicial de Ações, na sigla em inglês) este ano, uma convicção permanece: as empresas interessadas em dar esse próximo passo devem preparar-se não apenas para a abertura do capital, mas também para o que vem depois dela, chamado de “pós-IPO”.

Antes de detalharmos essa segunda etapa, vale entendermos a conjuntura atual do mercado de ações e as possibilidades de uma retomada de IPOs, após um jejum de mais de dois anos. É necessário entender os novos desafios e as exigências às quais as empresas interessadas em abrir capital precisam se adaptar, especialmente no que diz respeito às novas normas de sustentabilidade.

 

Panorama atual

 

  • 2021: segundo melhor ano da história em termos de IPO, a taxa de juros era baixa e havia disposição para se assumir riscos no mercado.
  • 2022: muita volatilidade e turbulências políticas, sem abertura de uma nova janela.
  • 2023: expectativa de retomada que acabou sendo prejudicada pelas altas taxas de juros e questões internacionais.

 

2024

Mesmo com as movimentações acima (ou a falta delas), ainda há notícias de que muitas empresas estão na fila de uma janela de IPO, aguardando por um cenário econômico mais favorável para tal – o que pode se concretizar somente no próximo ano. No entanto, em virtude destas dificuldades macroeconômicas, o que vem se desenhando é um cenário com públicos mais específicos e de empresas nichadas – como as organizações relacionadas ao setor de infraestrutura, por exemplo. Além disso, espera-se que haja mais participação de empresas familiares, em particular daquelas que enfrentam desafios relacionados à sucessão, visto que a abertura de capital pode ser uma solução eficaz para trazer liquidez e impulsionar a profissionalização da gestão.

Em contrapartida, espera-se uma menor participação de startups devido à falta de bons resultados daquelas que entraram em 2021, o que gerou a percepção de terem dado um passo mais acelerado do que podiam.

 

Novas normas de sustentabilidade e abertura de capital

 

Para as empresas que já estão no processo de preparação de IPO, há um novo desafio: as novas regras de sustentabilidade aprovadas pela Resolução 193 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Os entrantes do mercado de capitais terão de adotá-las em 2026, mas as normas da CVM permitem sua adoção de forma antecipada.

Segundo as novas regras, é necessário desenvolver relatórios que demonstrem os riscos e as práticas relacionadas aos temas de sustentabilidade e clima adotados pela organização, e seus impactos financeiros. Elas foram determinadas para que os dados sobre o tema estejam mais claros e padronizados, garantindo mais segurança ao investidor.

 

Estratégias moldadas para cada etapa do processo

 

Além das novas regras, ainda há os desafios “tradicionais” que uma empresa enfrenta ao se preparar para o IPO, pois é um processo que, além de provocar uma mudança na cultura da organização, é complexo e exige um planejamento meticuloso – o qual deve incluir um modelo de negócio robusto e sustentável para que a empresa se mantenha competitiva após a abertura do capital.

Uma assessoria especializada pode guiar a empresa em todas as fases que antecedem o processo de IPO – desde o diagnóstico inicial (ou IPO Readiness), que avalia a maturidade da empresa, até a implementação de mudanças necessárias, como a questão da sustentabilidade mencionada acima. Todas as medidas são tomadas para otimizar o processo, antecipando desafios e reduzindo o tempo de implementação e os custos envolvidos. Nesse amplo processo, todas as etapas devem ser assessoradas, inclusive o pós-IPO, que mencionamos no início do artigo.

 

O pós-IPO

 

O “pós-IPO” muitas vezes não está entre as preocupações e planejamento das organizações, o que resulta em gestores inseguros por não poderem mais contar com o time externo que o ajudou na jornada anterior (até a abertura de capital ou “pré-IPO”) – como advogados, assessores financeiros e bancos.

Ao realizar um processo de IPO readiness completo, as empresas preparam-se tanto para a abertura de capital, quanto para a fase posterior – um diagnóstico bem feito antecipa potenciais problemas de pós-IPO.

 

Departamentos estratégicos e seus desafios

 

A área de relacionamento com investidores é fundamental para esse processo e precisa ser fortalecida. Ela é a responsável por divulgar informações relevantes para o mercado, monitorar prazos e atender às exigências regulatórias – funções que a empresa talvez não tivesse de se preocupar antes do IPO.

A área jurídica pode ser impactada porque muitas vezes a parte societária, por exemplo, não era especializada. Já o departamento de controladoria pode necessitar de maior robustez durante o IPO, devido a necessidade de informações financeiras de diversos períodos em um curto prazo, e também no pós-IPO, pois os requisitos de divulgação das informações financeiras aumentam. 

Essas três áreas são requisitos do Regulamento do Novo Mercado da B3. Usualmente, nas empresas de capital fechado, esses departamentos não existentes ou necessitam de aprimoramentos.

Após a abertura de capital, a organização passa a atuar em novos mercados e ter acesso a novas oportunidades e produtos para captação de recursos, impactando diretamente a área de tesouraria. Em muitos casos, também é necessário estruturar uma área de sustentabilidade para atender aos novos requerimentos.

Além dos departamentos, ainda há desafios relacionados a prazos – por falta de análise prévia, muitas vezes a empresa não tem experiência ou mão de obra suficiente para cumprir com os requerimentos nos prazos exigidos. Além disso, manter o foco na operação em si e não se deixar levar pela oscilação das ações também pode ser uma tarefa desafiadora depois do IPO.

Todos esses diagnósticos que envolvem tanto o pós-IPO, quanto as fases anteriores, podem ser úteis para acompanhar o desempenho da empresa no mercado acionário, analisar e, se necessário, ajustar a governança, reduzir os riscos e melhorar a comunicação com investidores e acionários.

Nesse sentido, abrir capital com o apoio de uma consultoria estratégica é participar de uma jornada pautada por comprometimento e busca por otimização em todas as fases do processo.
 

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