Por Alexandre Paraskevopoulos, sócio de Auditoria & Assurance e líder do segmento de seguros da Deloitte; Reinaldo Oliari, sócio de Auditoria & Assurance da Deloitte; Daniele Aparecida Leite Soares, gerente de Auditoria & Assurance da Deloitte; e Joás Coelho, gerente de Auditoria & Assurance da Deloitte
As enchentes no estado do Rio Grande do Sul causaram devastação e sofrimento para população e diversos municípios e empresas. Além disso, também trouxeram à tona considerações necessárias para o mercado segurador, especialmente em relação às diretrizes de sustentabilidade e ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance).
Diante da situação, ressaltou-se a importância de incorporar aspectos climáticos e socioambientais na oferta de coberturas das apólices de seguros. As seguradoras podem ser pressionadas a adotar práticas mais refinadas para a avaliação, precificação e aceitação desses riscos, tornando o ESG uma variável fundamental para a resiliência dos negócios e a mitigação de riscos em um mercado cada vez mais exposto a eventos climáticos extremos.
A preocupação com diversos bens não segurados ou com a cobertura de seguro insuficiente, estão levando muitas seguradoras a repensarem sobre as formas de enfrentar as adversidades e incertezas do futuro e a auxiliarem os segurados de todos os segmentos a prevenirem ou mitigarem seus riscos, ao invés de apenas indenizá-los após um desastre. O seguro combinado com a gestão proativa dos riscos pode ajudar a minimizar o impacto – mesmo que inevitáveis – nos indivíduos e nas comunidades afetadas por eventos extremos.
Participantes do ecossistema da comunidade de seguros em todo o mundo tratam da gestão de riscos ambientais, sociais e de governança com grande relevância. Os normativos nacionais e internacionais que tratam do tema, em linhas gerais, requerem uma revisão e fortalecimento dos processos de avaliação e gestão de riscos pelas companhias seguradoras, a fim de lidarem melhor com eventos climáticos extremos, considerando os aspectos financeiros, sociais e ambientais.
A adequação à Resolução SUSEP nº 666 e às normas IFRS S1 e S2 tornou-se ainda mais necessária no contexto em que desastres climáticos, como as recentes chuvas na região sul do Brasil, destacam a vulnerabilidade das comunidades e a necessidade de uma gestão mais responsável. Essas regulamentações e normas exigem que as seguradoras integrem práticas de sustentabilidade e transparência, ajudando a fortalecer a resiliência frente a eventos climáticos extremos. Além de garantir conformidade regulatória, adaptar-se a essas diretrizes é um passo essencial para manter a confiança dos stakeholders e assegurar que a empresa esteja preparada para os desafios futuros, alinhando suas operações às demandas de um mercado cada vez mais atento à sustentabilidade e à gestão de riscos.
Nesse sentido, é fundamental uma abordagem proativa das seguradoras na identificação, avaliação e mitigação de riscos, analisando cenários de alterações climáticas e degradação ambiental, além de fontes de mudanças estruturais que possam afetar a atividade econômica e, consequentemente, o sistema financeiro. Para que essa gestão possa ser feita de forma eficaz e confiável é necessário que dados suficientes estejam disponíveis às seguradoras e tomadores de decisão, para que possam agir tempestivamente – este se é um grande desafio, visto a indisponibilidade de dados históricos robustos em bases integradas.
Custos adicionais para a implementação de data lakes¹ complexos e de sistemas capazes de trazer essas respostas também é um tema relevante para o segmento. Ao entender essa necessidade, a Deloitte tem investido globalmente na contratação e capacitação de especialistas nas áreas de tecnologia e ESG, para trabalharem nos desafios que afetam não somente a área de seguros, mas também outros segmentos importantes da sociedade.
É necessário entender os segurados de forma cêntrica, considerando os produtos e as coberturas que podem ser customizadas para melhor atendê-los no futuro, durante sua interação com a seguradora e como parte do ecossistema complexo que participam.
A inteligência artificial tem sido uma grande aliada nesse processo, coletando, integrando e interpretando dados de plataformas diversas, melhorando o entendimento do comportamento dos clientes, prevendo eventos extremos e compreendendo elementos de risco. Isso tudo é possível por meio da análise simultânea de centenas de variáveis que vão desde a contratação do seguro até a liquidação mais ágil dos sinistros, quando ocorridos com menor índice de fraudes. A precificação dos riscos também deve incorporar esses elementos durante a contratação das apólices dos segurados – uma precificação embasada em dados e com uso de tecnologia, pode trazer efeitos positivos aos segurados, com custos mais justos, e às seguradoras, com uma melhor gestão dos riscos assumidos.
As seguradoras devem desenvolver planos de contingência eficientes e estarem preparadas para lidar com emergências, visando a resiliência dos negócios e as relações sólidas com os stakeholders, destacando sua importante função social no ecossistema de nossa sociedade. Além do risco de sinistro, a preocupação socioambiental e reputacional deve levar em conta a destinação apropriada, seja para descarte ou reciclagem de resíduos, peças e outros bens segurados de forma consciente e inteligente.
A forma como as seguradoras responderão às catástrofes naturais pode ser um diferencial na geração de valor e na resiliência dos negócios a longo prazo. A adoção de boas práticas de ESG não só fortalece as relações com segurados, corretores, investidores e reguladores, mas também permite uma resposta ágil às mudanças de mercado, considerando os riscos emergentes que estão cada vez mais em foco.
A transparência nas suas ações, assim como a divulgação de informações claras e precisas, são essenciais para manter a confiança e a credibilidade no mercado. Por outro lado, uma resposta inadequada aos riscos climáticos pode resultar em danos à reputação e perda de confiança dos stakeholders, gerando danos ao valor da marca e despesas atreladas a rebranding², assim como potencial exposição judicial no futuro. Ao repensar suas estratégias e incorporar práticas de ESG, as seguradoras não apenas fortalecem sua resiliência e capacidade de adaptação a um cenário global em rápida mudança, mas também se posicionam como líderes responsáveis, capazes de gerar valor a longo prazo e garantir a confiança de seus stakeholders. Essa transformação é essencial para manter a relevância e a competitividade em um mercado cada vez mais exigente e consciente dos riscos emergentes.
¹Repositório centralizado que permite armazenar todos os dados, sejam estruturados ou não estruturados, em qualquer escala.
²Processo passado por empresas que desejam (ou precisam) fazer ajustes na forma como se colocam ao mercado.