O ano de 2020 trouxe inúmeros desafios para as empresas, pois o que prometia ser um período comum, com todos os avanços tecnológicos e cenários pré-definidos no ano anterior, se transformou em uma corrida completamente desconhecida, com diversos desafios e novos caminhos. A edição deste ano da pesquisa “Agenda”, realizada pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, apresenta a perspectiva de 663 empresas que, juntas, faturam R$ 1,2 trilhão, para 2021, quanto à recuperação e à sustentação de seus negócios no contexto pós-crise da Covid-19. O levantamento abordou as medidas adotadas pelas companhias durante esse período para se sustentarem diante do cenário estabelecido pela pandemia e quais são as expectativas para o próximo ano, em relação ao que já foi feito e às previsões para o cenário econômico.
A Agenda 2021 retrata que as empresas participantes estão olhando de forma bastante racional para o futuro. Uma parcela (42%) entende que a economia, mesmo que de forma mais lenta, voltará a crescer em 2021 e ficará igual ao nível pré-crise da Covid-19. Nesse mesmo ponto, 18% acreditam que será superior ao nível de antes da pandemia, enquanto 37% assinalaram que a economia deve ficar um pouco abaixo desse patamar. Para 3%, haverá queda em relação ao fechamento de 2020. No geral, 4 em cada 5 representantes entrevistados não acreditam que as empresas voltarão em 2021 a uma atividade econômica superior à que tinham antes da crise. Esse cenário, de forma abrangente, conta com o fato de que, no decorrer da crise, a maioria se preparou reestabelecendo prioridades, fazendo adaptações e realizando investimentos direcionados aos desafios recentes e a buscar eficiência nas operações.
De acordo com a análise, especialistas da Deloitte acreditam que, além da retomada de vendas, a preocupação das empresas também deverá se voltar a praticar margens adequadas à sustentabilidade e à capacidade de geração de valor do negócio. Dentre todos os investimentos para esse novo ambiente favorável, o que se destacou é que o quadro de funcionários deverá aumentar em 44% para as organizações respondentes. Esse é um reflexo da curva de recuperação, o que indica que haverá uma recomposição de parte dos postos de trabalho perdidos no ápice da crise. Já 24% pretendem manter o quadro de funcionários sem substituições; 23% devem manter os colaboradores com algumas substituições por profissionais mais qualificados.
“Há uma preocupação clara dos empresários com o estímulo à geração de empregos no Brasil e com o efeito decorrente na renda e no poder aquisitivo da população. A pesquisa aponta esta demanda específica como prioridade dos entrevistados para a melhora da atividade econômica para 2021. De forma geral, a pesquisa deixa claro que estes empresários continuarão a perseguir muitos aspectos que permitiram amadurecer os negócios em 2020, especialmente aqueles relacionados às transformações digital e de negócios. São legados do enfrentamento aos desafios de 2020, que devem ser levados ao próximo ano e acompanhar a jornada de recuperação”, destaca Altair Rossato, CEO da Deloitte.
Transformação é evolução
Devido ao isolamento imposto pela pandemia, surgiram novas necessidades para as empresas, onde o digital se tornou o ponto principal para elas, seja por meio de canais de venda online e/ou modelos de trabalho remoto para promoverem a continuidade de seus negócios.
“Despontou a urgência de se ampliar os investimentos em tecnologia para suportar a nova realidade e, consequentemente, também ganhou destaque a segurança digital para garantir o melhor uso da gestão de dados. Essas preocupações seguem firmes para 2021 e, nesse cenário de transformações e disrupturas, a formação de pessoas para conduzir essas mudanças é prioridade de grande parte das empresas”, afirma João Gumiero, sócio-líder de Market Development da Deloitte.
As vendas por canais digitais cresceram para mais de dois terços das empresas aptas a praticar o e-commerce (67% das 40% que já realizavam vendas online); 35% declararam que a crise foi o motivo do aumento e 26% aumentaram sem um fator decorrente diretamente da pandemia. Isso demonstra o caminho que a maioria das empresas já percorria em direção ao digital e o quanto a crise acelerou o uso desse tipo de canal. Dentro desse mesmo contexto de aceleração, a maioria das empresas entrevistadas manteve ou aumentou também outros investimentos em tecnologia durante a crise. Em 2021, a tendência é aumentar ou manter esse índice, especialmente em infraestrutura (cloud, equipamentos, rede e telecom e serviços de TI), para 95%; e em soluções (sistemas, ferramentas e softwares de gestão) e gestão de dados (big data, analytics, inteligência artificial), para 94%, em ambos os temas. Em conjunto com essas iniciativas e já de olho na implementação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), 56% das organizações aumentarão os investimentos em segurança digital em 2021; em 2020, 21% aumentaram em razão dos riscos gerados pelo aumento do tráfego digital durante a crise.
Em 2020, desde o início da crise, 85% das empresas adotaram o trabalho remoto para, no mínimo, um terço de suas equipes. Dessas, praticamente metade afirma que manterá ou ampliará o número de profissionais nesse modelo em 2021. Dentro do plano para o próximo ano, 42% das empresas reduzirão o espaço físico de trabalho, pós-pandemia, devido à ociosidade e 36% afirmam aumentar a frequência de dias em trabalho remoto.
Para acompanhar todas essas transformações digitais e de negócios, os empresários elegeram como prioridade, em 2021, investir em qualificar pessoas (84%), com criação ou ampliação de treinamentos. Em destaque, quando questionados sobre os desafios para viabilizar os projetos de investimentos em 2021, a falta de mão de obra qualificada foi um dos quatro primeiros pontos apontados pelas empresas. O lançamento de produtos ou serviços faz parte dos planos de 82% dos entrevistados, enquanto 64% devem ampliar ou criar ações de Pesquisa & Desenvolvimento. Metade dos participantes diz que vai ampliar ou criar parcerias com startups.
Negócios responsáveis: ESG ganha mais espaço
A governança ambiental, social e corporativa (ESG) ganhará um espaço maior em 2021. Haverá um avanço na adoção de práticas estruturadas e formalizadas, de acordo com os entrevistados. Seis em cada dez já possuem políticas de inclusão social, mas 54% não têm indicadores de gerenciamento de impacto social. Dessas, mais de um quarto pretende adotá-los em 2021. Atualmente, relatórios de sustentabilidade não são realizados por seis em cada dez e um quinto das organizações afirma que implementará no próximo ano.
Prioridade na governança dos dados
A LGPD ainda é um grande desafio para a maioria das empresas. Por mais que o tema tenha ganhado força no último ano, em sua fase de entendimento e adequação, apenas 38% das empresas se consideram preparadas para atender a todos os requisitos da lei. Em 2021, a LGPD terá nível alto de prioridade para 58% do empresariado participante.
Investir e expandir
A Agenda 2021 mostrou que modernizar e/ou substituir máquinas e equipamentos são fatores fundamentais para a produtividade da maioria das empresas pesquisadas, e a prática deve ser adotada por 62% delas. Entretanto, a geração de emprego e renda se dá principalmente por investimentos em expansão dos negócios. A intenção por práticas de crescimento orgânico reflete a expectativa das empresas para o cenário econômico em 2021: a abertura e a ampliação dos pontos de venda devem ser adotadas por 39% das organizações pesquisadas, enquanto a ampliação dos parques produtivos deve ser conduzida por 26% das empresas.
Até pouco tempo, custo e burocracia eram os maiores desafios para captação de recursos. Em um cenário de alta liquidez e juros baixos, outros fatores tomaram à frente dos negócios. A oscilação da economia (câmbio, inflação e juros) passa a vir em primeiro lugar, seguida pela imprevisibilidade na geração de receita e pelos riscos operacionais.
Nesse contexto, um número considerável de empresas continua a mostrar disposição para aproveitar a janela favorável, que permanece, a realizar IPOs: 29 demonstraram a intenção de fazê-lo em 2021. Emitir títulos de dívida é opção para 49 empresas participantes. Entre as organizações, 24% pretendem adquirir outra empresa em 2021; 18% devem fazer aquisições de produtos/marcas de outras companhias; 29% têm a intenção de participar de licitações ou privatizações, enquanto 10% esperam participar de concessões públicas.
De acordo com a Agenda 2021, 82% devem lançar serviços ou produtos no próximo ano; 64% pretendem ampliar ou criar ações de Pesquisa & Desenvolvimento; e 50% devem ampliar ou criar parcerias com startups.
Prioridade para os negócios em 2021
Diante do que foi vivenciado em 2020, as prioridades para os negócios se recuperarem no próximo ano será, para a maioria do empresariado, a geração de empregos (81%), a ampliação da oferta de crédito (69%) e apoio às PMEs (68%), o investimento em educação (83%) e a reforma tributária (98%).
“O ano de 2020 foi completamente diferente dos anos anteriores, as empresas não puderam esperar para fazerem seus planos para 2021. Poderia dizer que isso foi feito desde o primeiro desafio encarado, desde a resposta até a sustentação dos negócios em meio à crise da Covid-19. E as prioridades apontadas pelas mais de 600 empresas entrevistadas demonstram que os desafios do próximo ano serão relevantes, com foco não só na sustentação do negócio, como também no apoio ao ecossistema existente”, declara Ronaldo Fragoso, sócio-líder de Respostas de Negócios para a Crise da Covid-19, da Deloitte
Metodologia e amostra
A edição de 2021 da pesquisa “Agenda” contou com a participação de 663 empresas, cujas receitas líquidas totalizaram R$ 1,2 trilhão em 2020 – o que equivale a 15% do PIB brasileiro. A distribuição geográfica da amostra dividiu-se da seguinte forma (considerando a sede das empresas): 58% em São Paulo, 17% nos demais Estados da Região Sudeste, 15% na Região Sul, 7% no Nordeste, 3% no Centro-Oeste e no Norte do País. Do total dos respondentes, 65% estão em cargos de liderança C-Level. Adicionalmente, 32% das empresas participantes são de prestação de serviços, 16% de bens de consumo, 15% de TI e Telecomunicações, 12% de Infraestrutura, 8% de Agro, Alimentos e Bebidas, 8% de serviços financeiros, 6% de comércio e 3% de veículos e autopeças.
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