Análise

Mas, afinal, o que é ESG?

Saiba como essas três letras podem impactar no seu negócio

Por Anselmo Bonservizzi e Rafael Gulla

O primeiro artigo da série desenvolvida pela Deloitte sobre ESG apresenta como foi criado esse princípio e sua aplicação dentro das empresas.

Antes de começar a explicar o conceito em si, como ele surgiu e a importância de sua implementação, é preciso voltar para o significado das siglas – ESG é a sigla do termo em inglês (Environmental, Social e Governance), enquanto ASG é a sigla em português (Ambiental, Social e Governança).

Apesar de muito comentado no momento atual, engana-se quem acredita que o tema é novo no mercado. O ESG deriva de um termo bem conhecido e discutido há alguns anos – o desenvolvimento sustentável.

Esse conceito começou a ganhar notoriedade em 1972, durante a 1ª conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente e desenvolvimento por meio do termo “ecodesenvolvimento”. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento apresentou o documento “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”, que introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável como um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o atual e o futuro potencial para atender às necessidades e aspirações humanas.

Mais adiante, nos anos 90, o sociólogo britânico John Elkington introduziu o conceito Triple Bottom Line, também conhecido como o tripé da sustentabilidade ou os “3 Ps” (people, planet and profit, na sigla em inglês). Em português, a sigla ficou conhecida como “PPL” (pessoas, planeta e lucro). Esse termo determina que essas três dimensões precisam interagir entre elas para assegurar a sustentabilidade de uma empresa – ou seja, o negócio deve ser financeiramente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável.

Cabe ressaltar que, apesar da governança não ser mencionada de maneira direta no contexto passado, trata-se de um pilar que está intrínseco à operação de qualquer organização. Isso significa que o conceito de desenvolvimento sustentável só será aplicado se houver uma governança ética e alinhada a esses propósitos.

A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável

A sigla ESG surgiu em 2004, na publicação “Who Care Wins”, desenvolvida pelo Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial. Segundo relatado no próprio site do Pacto Global, houve uma provocação do secretário-geral da ONU a alguns CEOs de instituições financeiras sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Ou seja, pode-se dizer que o ESG é a sustentabilidade sob a ótica do mercado financeiro e, assim como o desenvolvimento sustentável, se trata de uma jornada ou um processo que deve ser absorvido pelas empresas públicas ou privadas.

Em 2020, dois eventos consolidaram a relevância desse termo: no “Relatório de Riscos Globais 2020”, apresentado no Fórum Econômico Mundial, os cinco maiores riscos listados foram ambientais. Além disso, a carta do CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, destacou, entre outros aspectos, a preocupação da sustentabilidade em seus portfólios, ressaltando o possível impacto das mudanças climáticas no crescimento econômico.

A aplicabilidade do ESG nas empresas

Environmental (E) – O pilar ambiental possui diversos aspectos que devem ser considerados em sua gestão para minimizar os impactos negativos e potencializar os impactos positivos ao meio, bem como mitigar os riscos aos negócios. Este pilar inclui aspectos relevantes como gases de efeito estufa, resíduos e produtos perigosos, recursos hídricos, efluentes líquidos, qualidade do ar, biodiversidade, entre outros.

O licenciamento ambiental, por exemplo, é um instrumento relacionado ao tema. Embora não seja tão comentado quanto as questões relacionadas às mudanças climáticas, é de extrema importância, pois está relacionado à autorização da operação de qualquer empreendimento. No Brasil, apesar do Projeto de Lei nº 3.729/2004 – que está em aprovação no Senado – o tema é regulado pela Resolução CONAMA nº 237/1997e também por legislações estaduais, pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais e são consideradas efetiva ou potencialmente poluidora ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.

Social (S) – Tem como base o modo que a empresa enxerga e respeita seus públicos de interesse, representados pelos clientes, funcionários, fornecedores, entre outros. Os temas envolvidos aqui são a diversidade, equidade e inclusão, os direitos humanos, o engajamento das equipes. Privacidade e proteção de dados, políticas e relações de trabalho, relacionamento com comunidades e treinamento da força de trabalho.

No Brasil, o tema mais premente é a diversidade, equidade e inclusão (DE&I). Atualmente, DE&I está na pauta da maioria das organizações no que se refere à necessidade de um maior esforço para que os comportamentos de liderança inclusiva e a consolidação de um ambiente de trabalho inclusivo e equânime sejam ancorados na cultura organizacional, e não apenas objeto de ações tempestivas e sem efeito de longo prazo para as pessoas e, consequentemente, para os negócios.

Governança (G) – Conjunto de práticas que visa alinhar os objetivos da administração da empresa aos interesses dos stakeholders (funcionários, fornecedores, clientes, comunidade, acionistas, entre outros). Dessa forma, esse conjunto deve considerar como diretrizes transparência, prestação de contas, equidade e a responsabilidade corporativa.

A transparência consiste, basicamente, na divulgação interna e externa das decisões tomadas pela liderança de modo a garantir a confiabilidade das informações e dos procedimentos seguidos. Da mesma maneira, a empresa deve prestar contas de toda a movimentação financeira realizada. Por fim, a equidade e a responsabilidade corporativa estão relacionadas ao tratamento igualitário entre todos os profissionais e partes interessadas, acrescidos ao cuidado com a imagem da empresa.

É fundamental que as empresas saibam identificar seus pontos fortes e desafios frente aos princípios ambientais, sociais e de governança, para que possam avançar em uma jornada ESG, integrando o tema em toda sua operação. Para além da responsabilidade corporativa, esse é um tema que definirá o próprio desenvolvimento dos negócios.

Anselmo Bonservizzi é sócio-líder de Risk Advisory da Deloitte

Rafael Gulla é gerente da prática de Sustentabilidade/ESG na Deloitte

 

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